Em abril, a Administração Civil de Israel declarou que interromperia a demolição e destruição de habitações palestinas durante o pandemia de coronavírus. A determinação, comunicada em tons vitoriosos pela Autoridade Palestina, tentou retratar Israel como estado preocupado com as consequências humanitárias da pandemia sobre uma população deslocada.
Entretanto, “preocupações de segurança” concederam uma brecha a Israel para retomar as demolições, mesmo durante esse período. Sobretudo, a infraestrutura palestina não foi nada poupada da violência deliberada e rotineira. As demolições de casas palestinas de fato não foram interrompidas, assim como a destruição de propriedades e o corte sistemático no fornecimento de necessidades básicas, como acesso à água.
A ong israelense B’Tselem relatou que Israel danificou ao menos 24 depósitos de água na aldeia palestina de Kafr Qadum, Cisjordânia ocupada, desde o início de abril. Segundo a entidade, a destruição é conduzida em franca retaliação a protestos semanais contra o bloqueio das rotas de acesso à aldeia, por parte de Israel. Os palestinos locais realizam tais protestos desde 2011.
“Em vez de iniciativa aleatória de um único soldado”, observou a ong, “essa conduta é, no mínimo, tolerada pelos comandantes em campo, em flagrante desrespeito à vida e à propriedade dos residentes. Soldados israelenses atiraram reiteradamente contra tanques de água, esgotando um recurso que faz parte da expropriação colonial cometida pelo estado clandestino contra os palestinos.”
Testemunhos dados por palestinos à B’Tselem demonstram correlação entre protestos e ataques israelenses contra o abastecimento de água. “Quem sabe, os soldados pensem que isso poderá interromper os protestos semanais”, relatou um cidadão palestino à ong, “porém, se for isso, estão enganados e delirantes.”
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Os palestinos que estavam em casa quando soldados israelenses iniciaram seu ataque lembraram-se de aguardar o fim dos protestos para que pudessem inspecionar danos causados aos tanques de água. “Após alguns instantes, ouvi a água fluindo do telhado para o pátio através dos canos de esgoto. Como os soldados ainda estavam na colina, fiquei com medo de subir ao telhado”. Somente nesta ocasião, 450 litros de água foram desperdiçados como resultado da violência israelense.
A pandemia restringiu ainda mais as opções dos palestinos em termos de recuperação do suprimento de água. Adquirir novos depósitos de água é um empreendimento caro para uma população que enfrenta graves dificuldades financeiras, devido a restrições à circulação e ao emprego, por parte das políticas discriminatórias de Israel.
Além disso, soldados israelenses fizeram dessa violação uma rotina, da mesma forma que normalizaram outros meios de violência. A única alternativa que resta aos palestinos é conduzir reparos frequentes e provisórios em sua infraestrutura. “Não posso pagar 500 shekels toda vez que eles atiram em um tanque de água. Então, toda vez que começam a atirar, eu fecho o registro principal e conserto provisoriamente o tanque com parafusos e cola.”
Não satisfeito em expropriar a água dos palestinos, o Estado de Israel também tenta esgotar o escasso suprimento que lhes permite. O silêncio da comunidade internacional nos diz que a água, bem essencial à sobrevivência, é simplesmente outra palavra vazia ao se tratar das violações de direitos humanos praticadas por israelenses. Ao passo que Israel intensifica ataques contra palestinos, longe de responsabilizar em uníssono o estado ocupante, e impor-lhe medidas punitivas previstas, a Organização das Nações Unidas (ONU) prefere reagir ao implementar mais outra camada à normalização da violência colonial.
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