A pandemia de coronavírus e a crise econômica no Líbano põem sob risco o direito de acesso à educação a muitos estudantes em todo o país, declarou hoje (29) em relatório a organização Save the Children.
Pesquisa conduzida frente a 137 cidadãos libaneses, além de refugiados sírios e palestinos, com idades entre 12 e 24 anos, demonstraram que 75% dos estudantes têm dificuldades com o ensino online. O índice atinge 80% entre meninas.
“Escolas estão fechadas. Meus professores usam agora o WhatsApp como alternativa, mas encontramos dificuldades em acessar os materiais. Nossa grade já é difícil, imagina aprender por telefone”, relatou Sahar, de dezessete anos.
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Todavia, embora escolas libanesas tenham estabelecido iniciativas de ensino à distância, com ajuda de autoridades, refugiados sírios e palestinos que responderam à entrevista afirmaram que suas escolas não possuem recursos para educação online.
Segundo o relatório, muitos entrevistados afirmaram que seus pais não podem pagar por professores particulares que possam auxiliar na conclusão em casa de sua grade curricular; a educação, portanto, está suspensa.
Entretanto, 66% dos entrevistados relataram à Save the Children que dependem de apoio financeiro a membros de sua família que perderam o emprego. Além disso, 90% afirmaram que qualquer apoio financeiro externo tem como prioridade a compra de necessidades básicas, como alimentos e remédios.
“Minha irmã foi demitida do trabalho, assim como meu irmão. Meu pai, taxista, não pode trabalhar ou deixar a casa. Passamos a maior parte, senão todo nosso tempo em casa, sem fazer nada”, declarou Sahar.
Em 2019, mesmo antes do surto de coronavírus e a decorrente crise econômica, a entidade Save the Children reportou que 70% dos refugiados no Líbano já vivem abaixo da linha da pobreza.
A organização previu que índices de abandono escolar provavelmente aumentarão, à medida que famílias perdem seus meios de sobrevivência e não podem mais comprar livros ou uniformes ou pagar transporte.
Jad Sakr, diretor nacional para o Líbano da organização Save the Children, afirmou:
“Nas comunidades mais vulneráveis, muitas infâncias serão abreviadas pois crianças estão sob risco exponencial de trabalho e casamento infantil. Afetará os mais carentes e marginalizados da pior maneira.”
A organização ainda fez um apelo às autoridades libanesas e à comunidade internacional para que estabeleçam planos de assistência social a famílias com dificuldades para sobreviver sob as difíceis circunstâncias econômicas atuais, além de conduzir projetos de apoio ao setor educacional.
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