A relações externas do Brasil, que um dia priorizaram os diálogos Sul-Sul e intercâmbios solidários com América Latina, África e Oriente Médio, são coisas do passado. O país que impulsionou a formação do BRICS, juntamente com Rússia, Índia, China em 2009, e África do Sul, em 2010, encolheu-se. Por sua exigência, o próprio grupo, que constitua uma força econômica emergente capaz de influenciar a agenda internacional, retirou-se de posições históricas, como o consenso de que o destino de Jerusalém só deva ser definido após a resolução da questão palestina. Com os palestinos.
A relação brasileira com o resto do mundo mudou na mesma escalada da influência dos Estados Unidos e Israel sobre o governo de Jair Bolsonaro. A nova agenda internacional foi explicitada pelo brasileiro ao bater continência para a bandeira dos Estados Unidos e reverenciar o sionismo colonial de Israel, em rota de coalizão com a resistência palestina e o direito internacional
O encolhimento da política externa brasileira reflete um país ainda sob efeito do golpe que abalou sua democracia em 2016, levou à eleição do atual presidente, em 2018. e que, agora, se mostra sem rumo e sem governo para enfrentar a pandemia de covid-19.
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A chegada do coronavírus encontrou o estado brasileiro em processo de desmonte, recursos sociais congelados, um governo em atitude perversa de negação e uma diplomacia incapaz de compreender a emergência global.
O período anterior ao golpe não terá sido de maravilhas. As críticas aos governos Lula e Dilma apontam para mais de uma década passada sem as reformas que deveriam democratizar o estado, enfrentar o poder financeiro, desconcentrar a propriedade da terra, o monopólio da mídia e os privilégios das elites econômicas.Mas essas críticas não se comparam – embora tenham sido contemporâneas – com o movimento que levou ao fim dos governos de esquerda no Brasil, por motivos opostos – a começar pela agenda social alçada a prioridade política. E por uma conjuntura internacional que mudou.
Os Estados Unidos, passada a crise de 2008 e frente à ascensão da China na economia mundial, buscou reorganizar seu quintal de influência. Brasil, Venezuela, Bolívia tornaram-se as grandes pedras no sapato desde a ascensão de governos populares na América Latina. As deposições em Honduras e Paraguai deram início à série de golpes brancos apoiados em sistemas jurídicos e parlamentares e campanhas articuladas para a derrubada de governos.
No Brasil, a Petrobras e a presidência se viram espionados pela agência norte americana NSA, como denunciado por Edward Snowden. Depois, a lupa passou a ser manuseada em casa, dentro da operação Lava Jato.
Delações de corrupção, negociadas pela operação, tomaram conta da agenda política, midiática e parlamentar, levando ao impeachment da presidenta Dilma Roussef e à prisão do ex-presidente Lula, afastado das eleições de 2018.
O período também foi marcado pela proliferação das igrejas evangélicas pentecostais que ocuparam a política e a mídia, com uma concessão de TV em condições de disputar algum espaço inclusive com a poderosa Rede Globo de Televisão.
Para além do ofício religioso, o setor nunca escondeu seu projeto de poder, tanto nos Estados Unidos, com Trump, quanto no Brasil, com Jair Bolsonaro. Tampouco é oculto seu papel militante em apoio ao planos israelenses para a Palestina.
Trump em busca da reeleição e Bolsonaro em busca de sustentação abraçam integralmente a mesma agenda pró-Israel de suas bases evangélicas.
O presidente americano, que já transferiu sua embaixada de Tel Aviv para Jerusalém no ano passado, empurra seu acordo do século para o Oriente Médio, apoiando a anexação de quase toda a Palestina, incluída Jerusalém, por Israel.
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Obediente à mesma política, o Brasil passou a assumir posições pró-Israel na ONU, prometeu também mudar sua embaixada – o que não conseguiu – e se ofereceu como amicus-curiae para tentar impedir que a Corte da Haia julgue os crimes israelenses. Recentemente chegou inclusive a apagar o parágrafo sobre Jerusalém que havia ajudado a escrever nos documentos do Brics..
No giro à direita de sua política externa, Bolsonaro não só contribuiu para a destruição das relações históricas entre o Brasil e a causa da Palestina, como promoveu o recuo econômico e político do Brasil na região da América Latina, alinhando-se às forças de golpe contra a Venezuela e a Bolívia.
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Submeter o país aos EUA implicou em radicalizar a agência neoliberal, minimizar o papel e estrutura do estado, eliminar gastos sociais e investimentos públicos, reformar e cortar direitos e reduzir a capacidade do poder público de responder às exigências da maioria da sociedade.
A terrível pandemia de covid-19 veio cobrar do Brasil tudo que até agora foi destruído: a responsabilidade forte do Estado, o uso de recursos públicos para impedir a estagnação, o apoio à ciência e à pesquisa, o estabelecimento de uma renda emergencial que chegue a todos, o pleno funcionamento do Sistema Único de Saúde.
O país que impediu por lei o aumento de gastos sociais por um período futuro de vinte anos, resiste em mudar o jogo para salvar milhares de vidas, apoiar o isolamento soicial, correr para assegurar médicos, equipes e serviços hospitalares e sanitários até as áreas desassistidas do país.
Agarrado aos compromissos econômicos, o governo se recusa a proteger as populações indígenas, recrimina o papel da mídia de informar e orientar a população no isolamento social, ignora a classe artística que mal sobrevive sem trabalho ou condições de dar ânimo e entretenimento a uma população à beira da depressão.
Não há nada mais contrário ao projeto do governo Bolsonaro do que assumir responsabilidades frente à pandemia. Para o presidente, o perigo do vírus – uma gripezinha, segundo ele – seria uma invenção das esquerdas para atrapalhar seus planos. E as políticas sanitárias dos governos e prefeitos de isolamento social contra a propagação do vírus devem ser eliminadas pelo criminalização dos governantes. Essa inversão da política e a resistência a agir pode afundar seu governo. Mas já está afundando o país.
Seus compromissos de enxugar o estado e adequá-lo ao quintal da América foram colocados acima de todos, atrelados à necropolítica que tem adotado para o Brasil.
Do seu ponto de vista, é melhor que a população enfrente a morte – “como homem, diz ele”, para que a economia não pare. Uma economia que serve a outros, não ao país.
Também não serve à solidariedade dos brasileiros com os palestino, que sobreviverá a Bolsonaro, Trump e Netanyahu, por ter raízes na amizade entre os dois povos. O país que afunda na pandemia e luta por respiradores que não existem para todos, deixa claro que a economia de Bolsonaro e seus parceiros externos não servem aos brasileiros. E sequer servem à humanidade.
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