Um cidadão egípcio que realizou mutilação genital feminina em suas três filhas após enganá-las sob pretexto de vacinação contra o coronavírus foi indiciado.
Segundo declaração da promotoria, o médico deu às meninas anestesia geral: “Quando acordaram, ficaram chocadas ao descobrir suas pernas atadas uma à outra e sensação de dor em seus genitais.”
O relatório forense detalhou “excisão dos… órgãos reprodutores”.
O médico também foi indiciado por realizar a prática brutal nas três irmãs, todas abaixo de 18 anos de idades, após a mãe reportar o caso às autoridades. Os pais são divorciados.
A mutilação genital feminina é ilegal no Egito desde 2008; penas mais severas foram estabelecidas apenas em 2016. Médicos que realizam o procedimento podem enfrentar até sete anos de prisão; instigadores, um ano. Entretanto, ainda é bastante comum no país e aqueles que instigam a prática e a executam raramente são responsabilizados.
Devido à ilegalidade, o custo médico do procedimento é alto. Anestésicos são considerados itens complementares; famílias que não podem pagá-los têm suas filhas operadas sem qualquer anestesia.
No início de 2020, Nada Abdul Maksoud, 12 anos de idade, de Assiut, na região do Alto Egito, foi forçada por seus pais a passar pelo procedimento e então morreu devido a hemorragia. O caso atraiu uma nova onda de críticas.
Os pais de Nada, sua tia e o médico que realizou a mutilação foram presos após o tio reportar a morte.
Segundo o Diretor Executivo do Centro de Orientação e Consciência Legal, com sede no Cairo, Reda el-Danbouki, o médico responsável pela morte de Nada foi quase imediatamente solto e há dúvidas sequer se enfrentará julgamento.
O Egito é um dos quatro maiores países em índices de mutilação genital feminina, executada tanto por cristãos quanto muçulmanos. Uma pesquisa conduzida pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) revelou que aproximadamente 90% das mulheres no Egito entre 15 e 49 anos foram submetidas à chamada circuncisão feminina.
A cirurgia é notória por ser extraordinariamente dolorosa e deixar as vítimas potencialmente inférteis, com grande risco de infecção. O procedimento ilegal pode ainda causar complicações no parto e dificuldades urinárias.
Estimativas oficiais registram que 200 milhões de mulheres já foram impactadas pela mutilação genital feminina, mas ativistas de direitos humanos afirmam que há enorme subnotificação.
LEIA: Egípcios protestam contra hospitais que rejeitaram mulher infectada com coronavírus