O Ministro de Relações Exteriores do Marrocos Nasser Bourita insistiu que a decisão de convocar o cônsul marroquino residente em Orã, na Argélia, foi tomada exclusivamente pelo governo em Rabat. O chanceler rejeitou declarações argelinas que sugeriam o contrário.
Segundo o porta-voz argelino Mohand Oussaid Belaid, o cônsul Aherdane Boutahar – “oficial de inteligência marroquino” – deixou Orã “a pedido do governo da Argélia”. Autoridades em Argel anunciaram a saída do cônsul na terça-feira (9), devido a uma declaração de Boutahar que criou uma crise diplomática entre os países.
A tensão agravou-se em maio após o embaixador marroquino Hassan Abdelkhalek ser convocado ao Ministério de Relações Exteriores em Argel, capital argelina, em protesto a um vídeo que viralizou nas redes sociais.
No registro, o cônsul afirmou a um grupo de imigrantes marroquinos isolados na Argélia, devido às restrições de viagem do coronavírus, que deveriam deixar o país de qualquer maneira, ao alegar: “Vocês sabem, estamos em um país inimigo”.
O porta-voz argelino descreveu a conduta do cônsul como “imperdoável”.
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O ministro Bourita afirmou que o Marrocos está tratando das declarações do cônsul com “máxima seriedade” e expressou sua “mais profunda insatisfação com as alegações feitas pelo representante de uma instituição que deveria mostrar bom senso e comedimento.”
O chanceler reiterou, no entanto, que Boutahar sempre desempenhou suas funções de modo absolutamente apropriado e profissional, ao longo de 28 anos de carreira como funcionário do Ministério de Relações Exteriores do Marrocos, incluindo diversos postos internacionais.
“Nosso Reino questiona os verdadeiros motivos por trás desta nova escalada e da disposição presente na Argélia em nutrir desconfianças, que transgridem todas as regras da boa vizinhança”, prosseguiu Bourita. “Não recebemos qualquer pedido de autoridades argelinas para convocar nosso cônsul em Orã; ele foi convocado por nossa própria iniciativa.”
O porta-voz Belaid insistiu que o cônsul deixou o país a pedido argelino, mas afirmou que esta questão de relações diplomáticas entre os estados vizinhos está fechada. “Trabalhamos para aumentar o nível de nossos intercâmbios, a fim de preservar os laços fraternais entre os povos da Argélia e do Marrocos.”
Relações entre Argélia e Marrocos sofrem impasses há décadas, devido ao conflito em curso entre Rabat e a chamada Frente Polisário (Frente Popular de Libertação de Saqiya al-Hamra e Rio do Ouro), movimento político em favor da autonomia do povo saaraui, no Saara Ocidental. As fronteiras argelino-marroquinas permanecem fechadas desde 1994.