Especialistas iranianos acreditam que os Emirados Árabes Unidos (EAU) estão trabalhando para fortalecer relações com Teerã, em paralelo à aproximação com Israel.
Após incêndio na embaixada saudita em Teerã, capital iraniana, e no consulado geral do país na cidade de Mashhad, no início de 2016, o governo da Arábia Saudita decidiu cortar relações com o Irã, o que levou Abu Dhabi a reduzir sua representação diplomática na república islâmica a meramente um encarregado de negócios.
Entretanto, disputas recentes entre Riad e Abu Dhabi levaram a uma melhora nas relações entre EAU e Irã, após anos de deterioração, por diversas razões; entre elas: a guerra no Iêmen, a disputa por ilhas no Golfo Persa e o financiamento de milícias ou organizações terroristas.
Diante da pandemia de coronavírus, Abu Dhabi enviou quatro aviões carregados com assistência médica ao Irã. Durante este período, o Ministro de Relações Exteriores do Irã Javad Zarif fez um telefonema à sua contraparte emiradense, Abdullah bin Zayed, no qual retomou relações diretas.
Em julho de 2019, Teerã sediou reunião entre a guarda costeira do Irã e dos EAU, pela primeira vez em seis anos. Debateram questões de cooperação de fronteiras, influxo de cidadãos de ambos os países e aceleração no escambo de informações e inteligência.
Recentemente, Mahmoud Vaezi, chefe do estado maior da presidência iraniana, relatou que a posição emiradense sobre o Iêmen começou a mostrar mudança.
Ao falar à agência Anadolu, Hassan Hani Zadeh, especialista iraniano em assuntos do Oriente Médio, argumentou que os quatro anos de bloqueio impostos ao Catar e as políticas dos Emirados Árabes Unidos na Líbia, Síria, Iraque e Líbano levaram ao isolamento de Abu Dhabi.
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Zadeh reiterou que a política externa emiradense é ligada a Arábia Saudita e que as diferenças que surgiram sobre o Iêmen, entre Riad e Abu Dhabi, levaram os EAU a divergir da linha de ação da coalizão, pela primeira vez em anos.
O expert iraniano reportou que surgiram diversas diferenças nos meses recentes entre o príncipe herdeiro Saudita Mohammed bin Salman e sua contraparte emiradense Mohammed bin Zayed, ao destacar a situação no Iêmen.
Zadeh explicou que as relações tensas entre Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos concederam a Abu Dhabi uma oportunidade de melhorar as relações com o Irã. “Acompanhar as políticas de Mohammed bin Salman resultaram apenas no isolamento e em danos políticos e econômicos [para os Emirados]”, prosseguiu.
A política de Abu Dhabi consiste então em dar um passo em direção ao Irã, outro em direção a Israel.
Zadeh destacou que Abu Dhabi precisa pôr em prática políticas independentes e fortalecer relações com países islâmicos. O especialista enfatizou que a visita de oficiais emiradenses a Israel contradiz os objetivos e interesses da Ummah (nação islâmica).
No mesmo contexto, Zadeh criticou a posição emiradense em relação à Turquia, ao indicar que as diferenças presentes entre Abu Dhabi e Ancara são prejudiciais à comunidade islâmica internacional. “É muito importante que Abu Dhabi busque solucionar suas disputas com a Turquia”, afirmou.
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