A economia de resistência é parte integral do desenvolvimento autônomo dos povos nativos e uma das razões para estabelecer projetos de desenvolvimento nacional. É preciso observar o tipo de desenvolvimento em questão: a cultura de produção e a responsabilização pelos crimes da ocupação não podem estar ausentes desta equação.
A economia rentista ainda representa uma característica da economia palestina. Trata-se de um modelo econômico que, em sua natureza, não representa ou é consistente com a cultura de resistência. O capital rentista depende majoritariamente da contribuição de países doadores e empresas internacionais que disseminam suas filiais conforme proximidade com algumas elites, em particular, responsáveis pelas tomadas de decisões.
Não obstante, a economia de resistência é uma arma e uma fortaleza ao mesmo tempo. Como arma, assume múltiplas faces capazes de enfraquecer o potencial adversário. Como fortaleza, impede o inimigo de submeter à força as formas de resistência, arbitrariamente, por meio de pressão econômica.
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O entidade sionista, no entanto, possui ainda um tipo diferente de arma em suas mangas, além dos armamentos tradicionais e do poder de fogo. Preserva, por exemplo, o sítio e a fome como método, pois considera a prosperidade econômica, proveniente das bases de resistência e existência palestina, como ameaça.
Israel alega que seus dois pilares fundamentais são segurança e economia. O fracasso em garantir sua segurança logo representa ruptura de sua prosperidade econômica, que enfraquece a imagem do estado sionista como refúgio seguro a todos os judeus do mundo.
A prosperidade econômica de Israel é sustentada pelo investimento estrangeiro em diversas frentes. Um dos objetivos estratégicos da resistência econômica é então pressionar empresas estrangeiras a abandonar investimentos sobre a entidade sionista.
Em contraponto, portanto, a campanha pode intensificar-se contra empresas estrangeiras que apoiam direta ou indiretamente a ocupação, como a americana Caterpillar, que contribuiu ativamente na destruição do campo de refugiados de Jenin, ou a empresa suíça Nestlé, que criou 4.500 oportunidades de emprego nos assentamentos ilegais israelenses. Tais investimentos abrangem uma campanha de terrorismo de estado, por parte de Israel, contra o povo palestino nos territórios ocupados da Palestina, incluindo Faixa de Gaza, Cisjordânia e Jerusalém.
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Deste modo, a campanha de desinvestimento pode concentrar-se com eficiência em empresas relacionadas a essas marcas, ao destacá-las como cúmplices de crimes de guerra. Neste contexto de guerra financeira, é notório que as forças sionistas conseguiram de fato fechar as portas do Banco Árabe nos Estados Unidos, ao acusar a instituição de facilitar e financiar operações contra Israel.
É importante reiterar a importância do boicote a bens de empresas estrangeiras que investem na entidade sionista, recentemente mencionado em resolução do Conselho de Direitos Humanos da ONU que registrou um total de 102 companhias que operam dentro dos assentamentos ilegais israelenses estabelecidas em terras ocupadas da Cisjordânia.
Conforme diretriz da administração do ex-presidente americano Jimmy Carter, a alimentação pode ser utilizada como arma contra todos aqueles que contradigam as políticas americanas. A segurança alimentar dos povos árabes, portanto, é ameaçada e gravemente exposta pois tais países importam mais bens alimentares do que são capazes de produzir. A segurança sanitária também é ameaçada pela debilidade da indústria farmacêutica no mundo árabe; a questão da água fica sob risco devido à negligência na manutenção e desenvolvimento de centros de armazenamento e tratamento em diversos países árabes, sem sequer mencionar o roubo de águas pela entidade sionista.
Todos estes elementos são utilizados pela ocupação israelense para impor pressão ao povo palestino e coagí-lo a aceitar uma política de fato consumado. Israel efetivamente implementa um cerco absoluto contra os palestinos e os priva de explorar qualquer recurso natural.
A resistência econômica é um projeto de desenvolvimento que concede prioridade à resiliência popular contra a ocupação e propõe meios de estabelecer imunidade para reagir à chantagem. Para tanto, os palestinos precisam se livrar do anexo econômico de Paris, que imputa grandes restrições à sua economia, ao subjugá-la à economia da potência ocupante, de modo que é impossível criar uma economia nacional livre e independente para então desenvolver-se de forma sustentável.
Em números, a convenção de Paris priva os palestinos de US$4 bilhões por ano, expropriados como lucro por empresas israelenses que operam dentro dos assentamentos ilegais na Cisjordânia ocupada. Estes mesmos US$4 bilhões mudariam a vida dos palestinos; um apoio material para preservar sua resistência diante do terrorismo colonial sionista.
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