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Israel cria lista de oficiais para evitar prisões por crimes de guerra

Segundo relatos, a lista deveria ser mantida em segredo pois impõe risco aos oficiais identificados

17 de julho de 2020, às 10h10

Segundo relatos, Israel está preparando uma lista secreta contendo centenas de oficiais que possam ser responsabilizados e julgados pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia, sob acusações de crimes de guerra. O governo alertou oficiais para não viajar, sob risco de prisão.

Conforme informações do jornal israelense Haaretz, a lista contém os nomes de algo entre 200 e 300 oficiais militares e de inteligência, que podem ser presos e julgados por crimes de guerra cometidos contra civis nos territórios palestinos ocupados da Cisjordânia e Faixa de Gaza.

O relato ocorre em meio a notícias de que o TPI está abrindo uma investigação sobre os crimes de guerra cometidos por Israel e Hamas na região, a começar pela ofensiva militar israelense contra Gaza, em 2014, conhecida como “Operação Margem Protetora”.

O pedido de julgamento foi feito pela promotora-chefe Fatou Bensouda.

A lista deveria ser mantida em segredo pois impõe risco aos oficiais identificados. Também pode ser vista por Haia como confissão de culpa.

LEIA: Crimes de Israel perante o Tribunal Penal Internacional

Entre os nomes citados na lista israelense estão: o Primeiro-Ministro Benjamin Netanyahu; os ex-Ministros da Defesa Moshe Ya’alon, Avigdor Lieberman e Naftali Bennett; os ex-chefes do Estado-Maior do Exército Benny Gantz e Gadi Eisenkot e o atual chefe do Estado-Maior Aviv Kochav; além dos líderes do serviço de inteligência Shin Bet, Yoram Cohen e Nadav Argaman.

Suspeita-se que a lista também inclua oficiais de médio escalão, entre os quais aqueles que aprovaram a construção de assentamentos exclusivamente judaicos dentro da Cisjordânia ocupada. Tais assentamentos são considerados estritamente ilegais segundo a lei internacional e representam objeto da investigação de Haia.

O futuro da investigação será decidido pelos juízes Peter Kovacs (Hungria), Marc Perrin de Brichambaut (França) e Reine Adelaide Sophie Alapini-Gansou (Benin). Dependerá também de análise da corte sobre sua jurisdição nas áreas onde foram cometidos os crimes de guerra, isto é, Cisjordânia, Faixa de Gaza e Jerusalém Oriental.

Israel insiste que o TPI não possui autoridade ou jurisdição sobre tais áreas, ao alegar que a Autoridade Palestina não constitui um estado soberano.

Tais reações levaram muitos observadores a prever que Israel deverá se recusar a cooperar com o TPI, o que pode resultar na emissão de mandados secretos de prisão contra oficiais israelenses. Este processo poderá restringir aos acusados sua habilidade de viajar e manter Israel alheio aos procedimentos jurídicos.

Caso seja aberta uma investigação por crimes de guerra, os planos israelenses de anexação ilegal da Cisjordânia ocupada também decorrerão em grave impacto a qualquer defesa que possa se apresentar. Bensouda incluiu este fator em seu inquérito preliminar.

A ameaça de uma investigação do TPI aos supostos crimes de guerra cometidos por Israel e Estados Unidos incitou críticas de ambos os países. O presidente americano Donald Trump impôs sanções à corte no último mês, medida celebrada por Israel.

Porém, não impediu Haia de receber ainda mais queixas sobre crimes de guerra israelenses e americanos, ainda em junho, o que fortalece o caso para uma investigação formal.

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