O proeminente empresário sírio Rami Makhlouf revelou ontem (26) ter estabelecido uma rede de empresas de fachada offshore (isto é, no exterior), a fim de ajudar o regime de seu primo Bashar al-Assad a desviar das sanções internacionais. A declaração representa uma nova escalada em sua disputa com o regime.
Makhlouf, antes um dos mais leais e influentes empresários do regime ditatorial de Assad, perdeu seus privilégios e tornou-se alvo de seu primo em 2019. Mantido em prisão domiciliar na Síria, Makhlouf recusou-se a cumprir as demandas das autoridades sírias, isto é, entregar sua fortuna e renunciar ao trono de seu império empresarial.
Em nova postagem no Facebook, entretanto, o magnata avançou um passo além e reconheceu o uso de empresas de fachada para ajudar a financiar o regime no decorrer dos anos.
“Fabricavam nosso extravio de recursos e os transferiam a nossas contas no exterior … Parem de contar mentiras e leiam bem os contratos”, afirmou Makhlouf, referindo-se à investigação das forças de segurança sírias sobre contratos de uma de suas empresas, Cham Holding. “O papel e objetivo dessas companhias é contornar as sanções [impostas por países do Ocidente] contra a Cham Holding.”
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A empresa, fundada há quase 15 anos por Makhlouf, ao reunir setenta investidores, tornou-se a maior corporação de capital financeiro da Síria e tem monopólio em setores e propriedades fundamentais ao país.
Em 2019, o regime decidiu congelar os recursos de Makhlouf. No entanto, sua rivalidade com Assad tornou-se pública em maio, quando o governo impôs ainda uma proibição de viagem contra o empresário e reivindicou o controle de sua empresa de telecomunicações, Syriatel.
Desde então, Makhlouf publica vídeos em sua conta do Facebook exigindo reconciliação por parte de Assad, além de queixar-se de impostos abusivos e condenar a repressão e detenção do regime conduzida contra funcionários de sua empresa.
A confissão de Makhlouf de estabelecer companhias de fachada para Assad surge em meio a outras revelações recentes de empresários ligados ao regime sírio que residem em Moscou, capital da Rússia.
Segundo os relatos, a vasta rede empresarial, que abrange a família de Makhlouf e associados, utilizou paraísos fiscais e companhias de fachada para efetivamente financiar o regime antes e durante a guerra civil na Síria.
Tais métodos, além do tráfico internacional de narcóticos, são particularmente úteis ao regime para driblar as sanções impostas pelos Estados Unidos e União Europeia. A última destas sanções foi estendida contra Assad sob o chamado Ato Caesar dos Estados Unidos, diante de denúncias de tortura e assassinato brutal nas prisões do regime, revelados pelo fotógrafo militar de codinome Caesar.