A Associação de Parlamentares por Jerusalém na América Latina se reuniu ontem, 27 de julho, para traçar estratégias comuns em defesa do povo palestino e, em especial, para ajudar a barrar os planos de anexação da Cisjordânia por Israel.
Após três reuniões presenciais globais, duas na Turquia e a última, este ano, na Malásia, a associação deu início ao processo de articulação entre parlamentares da América Latina, reunindo representantes dos vários países do continente para análise da atual conjuntura envolvendo as questões palestinas e as relações internacionais.
O presidente da associação, Hamid Al-Ahmar, explicou que os participantes procuram atuar em conjunto contra a ocupação da Palestina, confrontando a chamada “normalização” das relações dos governos com o Estado de Israel, algo como ele descreve como recompensar o agressor e deixá-lo avançar com seus planos de anexação.
A-Alhmar observou que os países latino-americanos sempre foram proativos na solidariedade com a Palestina. “Esperamos que esse papel aumente nos próximos dias, através da formação de pressões de “lobby” nos diversos fóruns internacionais em que os países do continente participam, para fazer soar o alarme do derretimento da esperança sobre estado palestino”, declarou.
Os planos de anexação, disse ele, vieram depois que a Cisjordânia e Jerusalém foram corroídas por milhares de assentamentos, até tornarem o que seria supostamente um estado palestino, dividido em Ilhas espalhadas, inadequado para esse estado.
O jornalista Amjad Abu Sido, que moderou a reunião, lembrou que há seis deputados nas prisões israelenses, integrantes do Conselho Legislativo da Palestina. E que Israel tenta prender o presidente do organismo, Aziz Dweik, indiferente a todas as convenções internacionais.
Abu Sido acrescentou que Israel é protegido pelos Estados Unidos, a extrema direita e as ditaduras em todo o mundo, enquanto o povo palestino se refugia na voz dos povos livres em todo o mundo e conta com os parlamentos dos povos livres para ter sua voz mais alta e dizer não à anexação.
Teve grande aceitação a proposta da deputada Julia Perié, da Argentina e do Parlasul, para que os parlamentares elaborem um projeto comum de apoio à Palestina para apresentar no Legislativo de seu países. Esse tipo de iniciativa poderia, segundo ela, buscar a adesão do Parlamento Europeu e outros parlamentos além da América Latina.
Sergio Arturo Castellanos, de Honduras, lembrou o exemplo do Chile, que pode ser seguido. O Congresso chileno recentemente aprovou uma resolução em favor da campanha de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) contra os produtos Israelenses produzidos nos territórios palestinos ocupados.
O Parlamento mexicano também foi lembrado por ter aprovado uma declaração rejeitando o plano de anexação israelense, assinada por mais de 69 deputados, incluindo o presidente mexicana e seu vice.
Bairon Valle, do Equador, apelou por uma coordenação entre os parlamentares para barrar as iniciativas sionistas articuladas pelos Estados Unidos. Ele enfatizou o fato de que os povos da América Latina lutaram por soberania e não podem apoiar a ocupação de um território ou tolerar a repressão e o racismo israelense. Para isso, argumentou, é preciso unificar as vozes pró-Palestina e “buscar os parlamentares que discordam da ocupação, como ferramenta poderosa para uma estratégia efetiva.”
As parlamentares Maria Eugênia Hernandez, do Mèxico, Julia Argentina e Cristina Heredia, Argentina defenderam a articulação entre os povos, a defesa da autodeterminação e o envolvimento dos envolver os parlamentos locais e federais na mesma causa. O povo oprimido dele lutar contra o colonialismo sionista e o comportamento inaceitável da ocupação no século XX, disse Júlia Argentina.
Outra sugestão apoiada pelos participantes é a de ampliar estratégias de comunicação. Enrique Alvarez, da Guatemala, levantou a questão ao lembrar que, na América Latina não há informação nem compreensão do que acontece na Palestina, onde as pessoas são impedidas de se relacionar entre um lugar e outro devido aos muros e imposições. Ele relatou a ida de uma delegação à Palestina, em que pessoas palestinas guatemaltecas não foram autorizadas a entrar. Lembrou também que Israel apoiou o exercito que massacrou e cometeu genocídio na Guatemala e é preciso mostrar isso ao povo. com uma comunicação mais agressiva.
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Enrique defendeu um movimento para atrair deputados de diversos tipos e ideologias para a causa, mas ponderou que “não basta só falar aos parlamentos, mas fazer um esforço para permear a opinião pública.”
Julio Chávez, da Venezuela, propôs que associação promova uma campanha informativa, e que os parlamentos tomem posição reconhecendo a fronteira de 1967 e a cidade de Jerusalém como capital palestina, denunciando o deslocamento de tropas israelenses ao ao Líbano e à Síria, e internacionalizando a luta contra os bloqueios. O venezuelano instou os parlamentares a denunciarem o bloqueio criminoso contra Cuba, Nicarágua, Venezuela, Irã e Palestina e a brutal repressão à comunidade afro americana nos EUA.
Além disso, para quando a pandemia passar, Julio Chávez propôs uma visita de parlamentares à Palestina, para chamar a atenção do mundo livre para a fragmentação da Cisjordânia. No momento da reunião, a Venezuela contabilizava 15.463 casos de contaminação pelo coronavírus em um mês, com 142 mortos.
O Sheik Jihad Hammadeh alertou para a importância da luta por justiça, “porque há muita gente lutando pela injustiça” . A Palestina, lembrou ele, é um exemplo, e é preciso conscientizar e colocar as pessoas dentro dos limites da justiça, mostrar que a defesa da liberdade dos povos é o caminho correto. Ele sugiu aos parlamentares o uso dos meios de comunicação e das redes sociais, onde os jovens estão, para levar essa conscientização.
Pelo Brasil, participaram o deputado federal Nilton Tatto e Said Murad, que lembraram a triste situação de retrocessos no Brasil, com o governo de Jair Bolsonaro e sua política externa contrária aos interesses do povo palestino. Murad criticou países, inclusive entre os países árabes, que deixaram de apoiar a causa – “porque estão interessados no dinheiro”
Nilto Tatto propôs uma reunião entre parlamentares brasileiros para traçar estratégias de solidariedade com a Palestina e enfrentamento da política atual no país. Ele defendeu também que os integrantes da associação atuem para proteger os parlamentares do Conselho Legislativo da Palestina, da prisão arbitrária pela ocupação sionista. “Isso é inaceitável e devemos agir assim que possível.” – frisou.
A reunião foi concluída pelo diretor geral da associação, Muhammad Makram Balawi, com um memorando e uma carta dos parlamentares latino-americanos rejeitando qualquer violação das terras da Cisjordânia, e indicando sua vinculação estrita ao direito internacional. O documento adverte que a anexação de terras palestinas na Cisjordânia é uma violação grave da Carta das Nações Unidas e da Convenção de Genebra. A carta será aberta a mais assinaturas de parlamentares latino-americanos .