A rua, localizada em Haifa, deve ser renomeada em tributo a Umm Kulthum após autoridades municipais aprovarem a mudança, em junho.
Umm Kulthum, conhecida como “Estrela do Oriente” e “Dama do Cairo”, foi uma cantora e atriz egípcia muito popular em todo o mundo árabe. Nascida em 1898, Umm Kulthum apresentou-se em Haifa na década de 1930, antes da Nakba (catástrofe palestina), isto é, a criação do Estado de Israel.
A cantora egípcia representou uma voz de destaque pela causa palestina e passou a ser conhecida como “a quarta pirâmide de Gizé” durante a chamada Guerra dos Seis Dias, em 1967, pela qual Israel ocupou ilegalmente Cisjordânia, Gaza e Jerusalém.
Na ocasião, Umm Kulthum cantou versos que desejavam vitória aos combatentes árabes. Por exemplo: “Agora tenho uma arma, leve-me, Palestina, contigo”, entre outras canções.
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Em resposta aos planos do conselho municipal de Haifa, o jornal local Kol Po publicou as letras pró-palestinas de Umm Kulthum, com uma imagem da cantora.
Ariel Kallner, parlamentar do partido conservador Likud, liderado pelo Primeiro-Ministro de Israel Benjamin Netanyahu, escreveu ao jornal local alegando “tristeza” pela decisão, ao acusar Umm Kulthum de “exortar a destruição do estado judaico”.
Kallner prometeu tentar obstruir a proposta de renomear a rua, reportou a rede AFP.
Outros conservadores israelenses foram ainda mais contundentes ao condenar o projeto. Yair Netanyahu, filho do atual premiê, tuitou em hebraico para criticar a medida como “vexatória e insana”.
בושה וטירוף!!!!!! @elirantal @EINATkalisch @ivgiz pic.twitter.com/PUFBebUStn
— Yair Netanyahu 🇮🇱 (@YairNetanyahu) July 14, 2020
Filho do Primeiro-Ministro de Israel condena homenagem a cantora egípcia como ‘vexatória e insana’
Outra página do Twitter de caráter sionista, intitulada Stand With Us, cujo perfil alega “ajudar a educar as pessoas em Israel e Oriente Médio”, compartilhou uma imagem de um restaurante em Haifa com a imagem da cantora.
“Umm Kulthum é bastante popular em Israel”, escreveu a página em árabe.
لأن الفن لا يعرف حدودا؛ صورة كوكب الشرق #أم_كلثوم تستقبل زوار "مطعم أم كلثوم" في مدينة حيفا الإسرائيلية.. أم كلثوم لديها شعبية كبيرة في #إسرائيل. pic.twitter.com/OSjrFkb5NV
— StandWithUs Arabic قف معنا بالعربية (@SWUArabic) August 1, 2019
A decisão, no entanto, não atraiu indignação apenas de israelenses, mas também árabes. Uma usuária observou em árabe: “[Autoridades de Israel] roubam nossas ruas e dão nossos nomes a elas. Impressionante, quanta classe!”
قررت لجنة الأسماء لبلدية حيفا إطلاق اسم المطربة المصرية الشهيرة أم كلثوم على أحد شوارع المدينة. وأشارت اللجنة إلى أن أم كلثوم تعد من أعظم مطربات العالم العربي ومن المهم تسمية شارع يحمل اسمها في مدينة تشكل نموذجا للتعايش بين عرب ويهود. وأعلنت البلدية أن السفير المصري رحب بالقرار pic.twitter.com/o7qUVk6tHt
— إسرائيل بالعربية (@IsraelArabic) July 14, 2020
Cidadã egípcia destaca a expropriação sionista, ao criticar decisão da prefeitura de Haifa de homenagear a cantora árabe
A decisão de renomear a rua alega ter como objetivo celebrar a “diversidade” na cidade de Haifa. Segundo estimativas da municipalidade sionista, 10% de seus 300.000 habitantes são árabes.
Segundo a AFP, Einat Kalisch-Rotem, chefe do conselho municipal de Haifa, argumentou que a cidade “representa um modelo de coexistência entre árabes e judeus”.
Apesar da controvérsia, não se trata da primeira rua nos territórios ocupados por Israel a ser renomeada em tributo a Umm Kulthum. Uma rua na região de Beit Hanina, em Jerusalém Oriental, foi designada em honra à cantora egípcia em 2011. Uma mudança similar é planejada na cidade de Ramla. Ambas as localidades também possuem população árabe significativa.