Uma guerra fria cibernética é travada entre Irã e Israel. Na manhã desta sexta-feira (31), um grupo iraniano alegou responsabilidade por uma série de ciberataques contra a infraestrutura ferroviária israelense desde 14 de julho.
As informações são da agência Anadolu.
Um grupo autodenominado Cyber Avengers (Vingadores Cibernéticos) afirmou em comunicado que lançou ataques contra 150 servidores industriais que coordenam o serviço ferroviário de Israel, afetando 28 trens e estações.
A declaração foi divulgada via Telegram, em canais ligados à Guarda Revolucionária do Irã, unidade de elite do exército nacional.
A “operação cibernética de larga escala” foi lançada em 14 de julho às 1h20 do horário local (20h50 GMT; 17h50 em Brasília). No mesmo horário, no início de janeiro, ataques a drone executados pelos Estados Unidos resultaram na morte do comandante militar iraniano Qasem Soleimani.
A operação continuou por dez dias, encerrando-se em 24 de julho. Entretanto, o grupo alertou: “O pior está por vir”. A série de incidentes e a declaração sugerem que a guerra virtual entre os países deve escalar.
O grupo também publicou um mapa da rede ferroviária de Israel, identificando as 28 estações atingidas, incluindo Jerusalém, Universidade de Tel Aviv e Ben Gurion. Mais de seis dias após o fim da operação, segundo o grupo, algumas estações ainda não estão funcionais, devido a “danos graves a equipamentos e infraestrutura”.
O objetivo da operação, alegou a organização anônima, é “demonstrar que podemos planejar a colisão de dezenas de trens, caso desejemos.”
Previamente, em julho, o mesmo grupo assumiu responsabilidade por quedas de fornecimento de energia elétrica, em Israel. A alegação, não pôde ser confirmada, segundo especialistas.
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Nos últimos meses, ciberataques sobre a infraestrutura de água de Israel foram relacionados a grupos iranianos clandestinos; ambos os lados, no entanto, recusam-se a confirmar ou negar oficialmente os incidentes.
A guerra cibernética ganhou impulso em abril, quando uma série de estações de tratamento de esgoto, estações de bombeamento e outras instalações em Israel foram atingidas por ataques cibernéticos sofisticados.
Os atentados, segundo especialistas, foram executados por hackers que invadiram o software de bombeamento de água, após rotear os servidores para encobrir a fonte dos ataques.
Em maio, um porto de alto fluxo, no sul do Irã, também foi alvo de ciberataques, que afetaram o tráfego no local por dias. A responsabilidade do atentado foi imputada a “hackers estrangeiros”, contudo, sem citar Israel nominalmente.
Mais recentemente, ocorreram uma série de incêndios “misteriosos” no Irã, sob suspeita de sabotagem. O governo iraniano, entretanto, rejeitou a especulação.
O incidente na usina nuclear de Natanz, ainda em julho, foi particularmente curioso. A entidade de mais alto grau em segurança no Irã afirmou ter determinado a “causa”, mas recusou-se a divulgar detalhes, por “questões de segurança”.
A última operação cibernética conduzida por um grupo anônimo, segundo análises, é parte desta guerra virtual em curso entre os dois adversários históricos da região.
Hussain Estahdadi, jornalista iraniano e analista especializado em ciberguerra, em postagem no Twitter, afirmou que Israel esteve “blefando sobre suas capacidades de segurança digital, ao longo da última década”.
“Como é possível que não tenham percebido sequer um único destes ciberataques sobre seu sistema ferroviário?”, questionou o jornalista.