Equipes de resgate libanesas escavaram os escombros em busca de sobreviventes de uma poderosa explosão que abalou a capital Beirute e resultou em cem mortos e quase 4.000 feridos, até então. Espera-se que as baixas sejam ainda maiores.
A explosão desta terça-feira (4), nos depósitos portuários que continham material altamente inflamáveis, representou a maior em décadas, vivenciada por uma cidade que já sofre com severa crise econômica e surto de contágios do novo coronavírus.
O Presidente Michel Aoun afirmou que 2.750 toneladas de nitrato de amônia, utilizado em fertilizantes e bombas, estavam depositadas por seis anos no porto, sem as devidas medidas de segurança, o que caracterizou como “inaceitável”.
Aoun convocou uma reunião de emergência de seu gabinete, nesta quarta-feira (5).
Oficiais não informaram ainda o que causou o incêndio que detonou a explosão. Uma fonte de segurança relatou à mídia que as chamas se iniciaram a partir de um trabalho de soldagem executado perto do depósito.
“É como uma zona de guerra, estou sem palavras”, declarou o prefeito de Beirute, Jamal Itani, à agência Reuters, ao inspecionar os danos, nesta quarta-feira. Estima-se prejuízo de bilhões de dólares à cidade, além do custo em vidas.
Declarou Itani:
Esta é uma catástrofe para Beirute e para o Líbano
O chefe da Cruz Vermelha no Líbano, George Kettani, informou que ao menos cem pessoas morreram no incidente. “Ainda estamos varrendo a área. Pode haver mais vítimas. Espero que não”, prosseguiu.
Previamente, Kettani relatou à emissora libanesa LBCI que a Cruz Vermelha está coordenando esforços com o Ministério da Saúde para instalar necrotérios de campo, pois os hospitais locais estão sobrecarregados.
Horas depois da explosão, que ocorreu pouco após às 18 horas locais (15h GMT; 12h de Brasília), um incêndio teve início no distrito portuário, projetando um brilho alaranjado sobre o céu noturno, conforme helicópteros e sirenes de ambulância eram ouvidos por toda a capital.
A explosão foi ouvida do Chipre, ilha no Mediterrâneo localizada a quase 160 quilômetros de distância do Líbano.
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A explosão retomou memórias da guerra civil no Líbano, entre 1975 e 1990, e seus encadeamentos, quando o povo libanês vivenciou pesados bombardeios, atentados a carros-bomba e ofensivas aéreas israelenses. Alguns residentes pensaram se tratar, no momento, de um forte terremoto.
Pessoas atordoadas, feridas, aos prantos caminhavam pelas ruas em busca de parentes.
“A explosão me jogou metros para trás. Estava atordoada e toda coberta de sangue. Trouxe-me de volta a imagem de outra explosão que vivenciei, contra a embaixada dos Estados Unidos, em 1983”, relatou Huda Baroudi, designer, residente em Beirute.
O Primeiro-Ministro Hassan Diab prometeu que as autoridades buscarão punir devidamente os responsáveis pela explosão no “perigoso depósito”. “Os responsáveis pagarão o preço”, enfatizou Diab.
A Embaixada dos Estados Unidos em Beirute alertou os residentes sobre relatos de gases tóxicos liberados pela explosão, e exortou as pessoas a permanecerem dentro de casa e usarem máscaras.
Muitos desaparecidos
“Há muitos desaparecidos. Pessoas perguntam ao departamento de emergência sobre seus entes queridos e é difícil realizar buscas à noite porque não há eletricidade”, declarou o Ministro da Saúde Hamad Hassan à agência Reuters, na noite de terça-feira.
Registros em vídeo da explosão foram compartilhados nas redes sociais, mostrando a enorme coluna de fumaça que despontou no porto de Beirute, após a explosão brutal – uma gigantesca nuvem branca e uma bola de fogo tomaram os céus.
Aqueles que filmavam o incidente de edifícios altos, a até dois quilômetros de distância do porto, foram atirados para trás pela onda de choque.
شو هاد
pic.twitter.com/YK8CjcyoRp— Fidaa فِداء (@fidaazaanin) August 4, 2020
Vídeos registram o momento da explosão em Beirute, capital do Líbano
Pessoas sangravam nas ruas, corriam e gritavam por socorro, em meio a nuvens de fumaça e poeira que tomaram a cidade, em uma paisagem de destruição: edifícios danificados, destroços caindo dos céus e carros destroçados.
A explosão ocorreu apenas três dias antes de uma corte apoiada pela ONU submeter seu veredito sobre o julgamento de quatro suspeitos do grupo islâmico xiita Hezbollah, elemento ativo da política atual libanesa, devido a um bombardeio em 2005 que resultou na morte do ex-primeiro-ministro Rafik al-Hariri e outras 21 pessoas.
Hariri foi assassinado pela explosão de um enorme caminhão-bomba, na mesma orla de Beirute, cerca de dois quilômetros de distância do porto.
Oficiais de Israel, país responsável por travar diversas guerras contra o Líbano, alegaram não ter qualquer relação com a explosão e concederam prontidão para enviar ajuda humanitária e assistência médica ao país vizinho.
O Irã, estado islâmico xiita e principal apoiador do Hezbollah, também ofereceu ajuda, assim como seu rival sunita na região, Arábia Saudita. O Chipre também declarou prontidão para conceder auxílio médico.
Em informativo na Casa Branca, o Presidente dos Estados Unidos Donald Trump sugeriu que a explosão decorreu de possível atentado. Contudo, dois oficiais de segurança americanos logo reportaram que informações iniciais contradizem a alegação do presidente.
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