Cori Bush, ativista do movimento internacional Black Lives Matter (Vidas Negras Importam) e defensora da campanha de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) contra a ocupação israelense na Palestina, causou uma surpresa histórica nesta quarta-feira (5), ao vencer as primárias eleitorais legislativas dos Estados Unidos.
A enfermeira de 44 anos, que já viveu nas ruas, deu fim aos dez mandatos consecutivos do veterano político William Lacy Clay, ávido apoiador do estado sionista.
O embate foi bastante acirrado: Bush derrotou Clay por apenas 3% de vantagem, ao conquistar 49% dos votos contra 46% de seu adversário, para tornar-se a candidata do partido Democrata ao 1° Distrito Congressional do Missouri, nas eleições deste ano. Tradicionalmente, o assento é mantido por democratas.
O resultado de ontem reverteu amplamente as primárias de 2018, quando Bush – com apoio do Senador Bernie Sanders – tentou destituir Clay pela primeira vez, mas perdeu por 20 pontos.
A campanha eleitoral de Clay foi alvo de duras críticas. Em último esforço para mobilizar a comunidade judaica, o candidato de 64 anos circulou uma cartilha denunciada como tentativa de difamar sua adversária, ao destacar seu apoio ao BDS e acusá-la de possuir uma “agenda anti-Israel”. Além disso, buscou atrair atenção do público ao atacar o trabalho de Bush junto da ativista palestino-americana Linda Sarsour.
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Ao invés de permanecer na defensiva e expressar seu apoio a Israel – como normalmente é o caso de candidatos atacados desta maneira –, Bush reiterou seu apoio à causa palestina.
“Cori Bush sempre se solidarizou ao movimento de BDS e permanece ao lado do povo palestino, assim como permanece em solidariedade aos negros americanos que lutam por suas próprias vidas”, afirmou em nota publicada por sua equipe de campanha.
O Comitê de Solidariedade Palestina de St. Louis, organização local em apoio ao povo palestino, também divulgou uma declaração para destacar a forte oposição de Bush às políticas discriminatórias de Israel.
“Cori Bush demonstrou-se leal defensora dos direitos palestinos e crítica contundente do Estado de Israel. Em nosso comício, no dia 3 de julho, [Bush] expôs sua oposição aos planos de anexação da Cisjordânia e compartilhou conosco os princípios de anti-imperialismo no exterior e antirracismo em casa”, afirmou a entidade em nota.
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Grupos sionistas provavelmente devem enxergar a derrota de Clay com apreensão. O veterano político é defensor árduo do estado sionista. Em 2019, foi um dos parlamentares democratas, dentre a maioria do partido, a apoiar a resolução que buscou condenar o movimento de BDS.
“Meu voto apoia-se no princípio de que, não importa o quão dividida está a nossa política, a proteção e o apoio ao nosso aliado Israel são fundamentos bipartidários, que devem permanecer como tal”, alegou Clay, na ocasião.
A derrota do lobby sionista ocorreu no mesmo dia em que a congressista palestino-americana Rashida Tlaib venceu suas primárias para a candidatura do 13° Distrito de Michigan. Assim como Bush, o adversário de Tlaib tentou explorar seu apoio expresso à causa palestina e suas críticas a Israel, para prejudicá-la.
Outra vitória que sugere mudança na percepção do eleitorado americano sobre Israel foi representada pela derrota humilhante do congressista Eliot Engel, apoiador contundente do estado sionista, após dezesseis mandatos, no 16° Distrito de Nova Iorque, diante do educador negro e candidato progressista Jamaal Bowman.
Todos os olhos voltam-se agora à parlamentar somali-americana Ilhan Omar. Grupos sionistas tentam a todo custo destituí-la em seu primeiro mandato, às vésperas das eleições primárias pelo 5° Distrito de Minnesota, ainda este mês.
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