Mohammed Bin Salman, príncipe herdeiro e governante de fato da Arábia Saudita, incitou o Presidente da Rússia Vladimir Putin a intervir militarmente na guerra civil da Síria, relatou uma série de documentos oficiais relacionados a um ex-chefe de inteligência saudita.
Saad al-Jabri, ex- oficial saudita de 62 anos, registrou um processo contra Bin Salman no judiciário dos Estados Unidos.
Segundo as alegações, o autor da queixa participou de duas reuniões oficiais com John Brennan, ex-diretor da Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA), em 2015.
Em um dos encontros, em meados de julho, al-Jabri e Brennan discutiram uma comunicação recente de Bin Salman a Putin e ao chefe da CIA, a qual provocou receios de encorajamento saudita a uma intervenção russa em território sírio.
Conforme os relatos, quando al-Jabri reportou a preocupação de Brennan ao príncipe, recebeu uma resposta “furiosa”.
LEIA: Ex-rei da Espanha recusou oferta de mudança para a Arábia Saudita
A groundbreaking detail buried deep in the lawsuit filed by former Saudi intelligence chief against the crown prince MBS in US courts:
MBS *encouraged* Vladmir Putin's military intervention in Syria in September 2015, which enraged then CIA chief John Brennan. pic.twitter.com/GQHFG4DhjE
— Hassan Hassan (@hxhassan) August 6, 2020
‘Detalhe estarrecedor escondido no processo … Bin Salman encorajou a intervenção militar de Vladimir Putin na Síria, em setembro de 2015’, destaca o autor e articulista Hassan Hassan
No mês seguinte, al-Jabri e Brennan realizaram outra reunião na qual o diretor da CIA relatou ao oficial saudita que a agência não poderia perder seu contato após pedir exoneração do cargo, em protesto à intervenção do reino ao Iêmen, naquele mesmo ano.
Em setembro, a Rússia deu início a suas manobras militares dentro da Síria, em apoio ao regime do Presidente Bashar al-Assad.
A revelação estarrecedora foi detalhada no mesmo processo judicial que revelou ordens do príncipe herdeiro para enviar um esquadrão da morte ao Canadá, onde al-Jabri vive em exílio, para executá-lo.
LEIA: ‘Os EUA nos pediram para mediar entre Arábia Saudita e Irã’, afirma premiê do Paquistão
A equipe, composta por mercenários a serviço pessoal de Bin Salman, denominada “esquadrão tigre”, foi detectada e interceptada pela segurança do aeroporto em Toronto, ao tentar entrar no país norte-americano, em meados de outubro de 2018.
A missão frustrada de assassinato do ex-oficial saudita ocorreu duas semanas após a execução do jornalista Jamal Khashoggi, radicado nos Estados Unidos, conduzida por agentes sauditas no consulado do reino em Istambul, Turquia, em 2 de outubro de 2018.
A morte de Khashoggi atraiu indignação internacional e levou o príncipe herdeiro da Arábia Saudita às manchetes.
A suposta incitação de Bin Salman à intervenção militar da Rússia em território sírio, ainda em curso, marca uma reviravolta significativa na política internacional do reino, dentro do contexto da guerra civil no país árabe. A princípio, a Arábia Saudita declarava apoio a certos grupos de oposição da Síria.
A mudança coincide, no entanto, com a ascensão ao poder do príncipe herdeiro e seu pai, Rei Salman, após a morte do antigo monarca Abdullah. Desde então, a nação do Golfo passou a demonstrar neutralidade externa ao conflito e agir nos bastidores.
LEIA: Grã-Bretanha treina agentes da Arábia Saudita, Egito e Emirados