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Libaneses convocam uma insurreição no país após protestos abalarem Beirute

Manifestantes tomam a Praça dos mártires contra o governo, após explosão mortal no porto de Beirute, na capital do Líbano, 8 de agosto de 2020 [Houssam Shbaro/Agência Anadolu]
Manifestantes tomam a Praça dos mártires contra o governo, após explosão mortal no porto de Beirute, na capital do Líbano, 8 de agosto de 2020 [Houssam Shbaro/Agência Anadolu]

Neste domingo (8), diante da indignação pública após a devastadora explosão desta semana, em Beirute, alguns grupos e representantes libaneses defenderam uma insurreição no país para depor seus líderes.

As informações são da agência Reuters.

Manifestantes pediram que o governo seja plenamente exonerado, ao acusá-lo de negligência, que levou à explosão de terça-feira (4). A indignação coletiva incidiu em confrontos violentos no centro de Beirute, no sábado (8).

O Patriarca Boutros al-Rai, principal clérigo cristão maronita do Líbano, defendeu a renúncia do gabinete de governo, caso não seja capaz de “mudar seus modos de gestão”. Em seu sermão de domingo, afirmou: “A renúncia de um parlamentar ou ministro não é suficiente … todo o governo deve renunciar, caso não seja capaz de ajudar o país a se recuperar”.

A Ministra de Informações Manal Abdel Samad anunciou sua renúncia ainda neste domingo, ao mencionar a explosão e o fracasso do governo em implementar reformas.

Dezenas de pessoas ficaram feridas durante os protestos de sábado, os maiores desde outubro, quando milhares de pessoas tomaram as ruas contra corrupção, má gestão e inaptidão pública, ao responsabilizar a elite política libanesa pelas sucessivas crises.

LEIA: O Líbano é uma longa história de desastres e crises

Cerca de 10.000 pessoas reuniram-se na Praça dos Mártires, que transformou-se em zona de guerra no início da noite, quando a polícia reprimiu manifestantes que tentavam romper uma barreira em direção ao parlamento. Alguns manifestantes conseguiram invadir prédios de ministérios e a sede da Associação de Bancos do Líbano.

Os protestos avançaram em desafio a uma chuva de gás lacrimogêneo disparada por forças de segurança. Os manifestantes responderam à repressão das tropas de choque com pedras e fogos de artifício. Alguns policiais foram levados a hospitais por ambulâncias. Um policial foi morto.

A Cruz Vermelha relatou ter tratado 117 pessoas por ferimentos ocorridos no local dos protestos; outros 55 pacientes foram levados a hospitais da região.

Soldados em veículos equipados com metralhadoras automáticas permaneceram estacionados ao lado da Praça dos Mártires, no domingo.

“As pessoas deveriam dormir nas ruas e protestar até que o governo caía”, enfatizou a advogada Maya Habli, ao inspecionar a destruição no porto, onde irrompeu a explosão.

O incidente resultou na morte de 158 pessoas e mais de 6.000 feridos, destruiu grande parte da cidade e exacerbou o já dramático colapso econômico, político e social do Líbano. Vinte e uma pessoas ainda estão desaparecidas.

Os gabinetes do primeiro-ministro e da presidência reportaram que 2.750 toneladas de nitrato de amônio, material altamente explosivo utilizado em bombas e fertilizantes, foram armazenadas sem medidas de segurança, por seis anos, em um depósito do porto.

O governo alegou que levará justiça aos responsáveis pela catástrofe.

Bairros eviscerados

Ainda no domingo, com apoio da ONU, o Presidente da França Emmanuel Macron conversou por videoconferência com o Presidente dos Estados Unidos Donald Trump e outros líderes políticos, a fim de mobilizar doadores e recursos de emergência ao Líbano.

A explosão atingiu uma cidade que já sofria da crise econômica e da pandemia de coronavírus. Para muitos, recordou tragicamente cenas da guerra civil que assolou o país entre 1975 e 1990. Partes de Beirute destruídas durante a guerra foram reconstruídas pouco a pouco.

“Trabalhei no Kuwait por quinze anos no setor sanitário, para guardar dinheiro e abrir uma loja no Líbano. Tudo isso foi destruído pela explosão”, relatou Maroun Shehadi. “Nada vai mudar sem a saída de nossos líderes”.

A explosão devastou bairros inteiros.

“Veja isso”, afirmou Eli Yazbak, gerente de uma empresa de moda cuja sede de dez andares foi destruída pela explosão. “Isso nos levou 50 anos para trás. Enfrentamos crise após crise no Líbano. É hora do governo renunciar e deixar que pessoas capazes administrem o país.”

LEIA: Israel e o uso da tragédia em Beirute

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