Gabinete de governo do Líbano renuncia

O gabinete de governo do Líbano renunciou hoje (10), ao enfrentar críticas cada vez mais contundentes à resposta do governo diante da explosão que abalou Beirute, capital do país, na última terça-feira (4).

O Primeiro-Ministro Hassan Diab fez um pronunciamento ao país às 19h30 do horário local (16h30 GMT; 13h30 em Brasília), no qual anunciou formalmente a renúncia do governo.

Em discurso breve transmitido pela televisão, anunciou Diab: “Dou um passo atrás para poder estar com o povo e lutar por mudanças junto às pessoas … Declaro hoje a renúncia deste governo. Que Deus proteja o Líbano.”

A medida ocorre após renúncia de uma série de ministros.

Ontem (9), o Ministro do Meio Ambiente Damianos Kattar e a Ministra das Informações Manal Abdel Samad submeteram sua renúncia ao governo. Na manhã de hoje, exonerou-se também a Ministra da Justiça Marie-Claude Najm.

Pouco depois, o Ministro das Finanças Ghazi Wazni, negociador chave com o Fundo Monetário Internacional (FMI), a fim de obter um plano de resgate financeiro ao Líbano, chegou ao Grand Serail (Palácio do Governo) para reunião de hoje e apresentou formalmente sua carta de renúncia.

O Ministro da Saúde Hamad Hassan falou a repórteres após a reunião do gabinete de governo e prontamente declarou: “Todo o governo renunciou”. Em seguida, relatou que o premiê estava a caminho do palácio presidencial para formalizar as exonerações.

Oito parlamentares e o embaixador do Líbano na Jordânia também renunciaram diante das explosões. O Ministro de Relações Exteriores Nassif Hitti demitiu-se na última segunda-feira (3), um dia antes do desastre que devastou Beirute.

Durante a reunião de gabinete desta tarde, logo antes do governo anunciar a decisão de exonerar-se por completo, ministros encaminharam oficialmente a investigação sobre a explosão ao Conselho Judicial do Líbano, mais alta autoridade jurídica do país.

As explosões ocorridas na última semana, causadas por 2.750 toneladas de nitrato de amônio armazenadas indevidamente no porto de Beirute, resultaram em mais de 200 mortos e 6.000 feridos, além de centenas de milhares desabrigados e da devastação na capital.

O Líbano sofre da pior crise econômica na história do país, desde a guerra civil, entre 1975 e 1990, e luta para conter a pandemia de coronavírus.

Enorme explosão abala Beirute, no Líbano [Sabaaneh/Monitor do Oriente Médio]

A catástrofe sobre Beirute voltou a despertar protestos contra o governo em escala nacional, realizados desde outubro de 2019, embora sob intervalo devido à crise do coronavírus. As manifestações denunciam a corrupção endêmica do governo e reivindicam a deposição de todo o sistema político sectário.

Nos últimos dias, milhares de libaneses tomaram as ruas no centro de Beirute. Alguns manifestantes invadiram o Ministério de Relações Exteriores e puseram fogo em um retrato do Presidente do Líbano Michel Aoun. Em seguida, também conseguiram entrar nos edifícios dos Ministérios das Finanças e de Energia.

Simultaneamente, manifestantes na Praça dos Mártires, centro de Beirute, erguiam forcas simbólicas em demanda contundente pela deposição da elite política que domina o país.

Ainda hoje, manifestantes realizaram ato no centro revitalizado de Beirute e atiraram pedras contra agentes de segurança posicionados em frente ao parlamento. A tropa de choque libanesa respondeu com gás lacrimogêneo.

O governo de Diab deve manter-se como provisório, até que o parlamento concorde em indicar um novo primeiro-ministro – processo conhecido pela demora, capaz de delongar-se por meses e meses.

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