Recordando sua jornada com dois companheiros à Faixa de Gaza, através do bloqueio egípcio, um dos coautores do livro No Way to Gaza (Sem Caminhos para Gaza) detalhou o assédio infringido por oficiais do Egito contra o trio brasileiro e residentes palestinos.
No Way to Gaza Conta a história do grupo de cineastas brasileiros que tentou chegar ao território palestino sitiado via Egito, a fim de documentar a situação na Cidade de Gaza.
A travessia de fronteira de Rafah, na fronteira sul, deveria representar uma rota alternativa à travessia de Erez, controlada pela ocupação israelense, no nordeste de Gaza.
Entretanto, a jornada dos documentaristas logo tornou-se uma “aventura perigosa nos confins da ditadura de Abdel Fattah el-Sisi e sua controversa guerra contra o terror na península do Sinai”, conforme resenha de nosso grupo editorial MEMO Publishers.
O projeto documental foi frustrado quando os três amigos – Rodrigo D.E. Campos, Renatho Costa e Lucas Bonatto Diaz – caíram nas teias da burocracia do Egito.
Aventura sob bloqueio do Egito
O trio de cineastas brasileiros planejava ficar um dia no Cairo e 25 dias em Gaza, a fim de produzir seu documentário. Porém, ao chegar na capital egípcia, descobriram que precisavam de documentos complementares – uma busca que provou-se fútil, dia após dia, repartição pública após repartição.
Após 25 dias de imbróglio burocrático, receberam permissão para ir adiante, atravessar o Canal de Suez e entrar da península do Sinai.
No entanto, o trio enfrentou uma nova série de revezes: tiveram de retornar três vezes a Suez e pagar propina a soldados apenas para chegar à cidade de al-Arish, cerca de 45 quilômetros de Rafah.
“A inteligência egípcia constantemente nos seguia”, afirmou Campos.
No dia seguinte, chegaram a Rafah onde tiveram de aguardar um dia inteiro. Então, foram expulsos do local por uma ordem militar do Egito, para retornarem a al-Arish e serem detidos em um hotel.
Campos recordou o suplício: “Não recebemos qualquer alimento e tínhamos de beber água do banheiro”.
Acordaram na manhã seguinte para descobrir uma escolta de dez veículos de segurança e um tanque de guerra logo em frente ao hotel, com objetivo de devolvê-los ao Cairo.
Assédio diário contra os palestinos
Esta antologia de anedotas do grupo também conta histórias dos palestinos que arriscam tudo em sua vida somente para chegar à sua terra.
“Todo mundo sabe sobre os bloqueios de Israel, mas o que não sabem é que os palestinos sofrem igualmente nas mãos do exército egípcio”, lamentou Campos.
O cinegrafista reiterou, no entanto, que não sofreu junto de seus colegas com o mesmo grau de abuso imposto aos palestinos todos os dias, para entrar e sair de Gaza. Uma das histórias do livro relata o caso de um estudante palestino que veio da Suécia para passar as férias; contudo, detido na fronteira por uma semana.
O exército do Egito alegou ter descoberto materiais contra o “anticolonialismo” em seu computador. A história é apenas uma entre muitos relatos similares presentes no livro.
A Faixa de Gaza – vítima de um severo bloqueio israelense por ar, terra e mar, desde 2007 – possui apenas sete travessias de fronteira para conectá-la ao resto do mundo.
Seis destas travessias, incluindo Erez, são controladas por Israel. A sétima – Rafah – é controlada pelo Egito, que a mantém essencialmente fechada pela maior parte do tempo desde a deposição, via golpe militar, do ex-presidente Mohamed Morsi, em 2013.
Israel fechou quatro de sua travessias comerciais, em junho de 2007, após o movimento de resistência palestina tomar o controle da região diante do fracasso de uma coalizão de governo com a Autoridade Palestina, com sede em Ramallah, Cisjordânia ocupada.
Em entrevista ao MEMO, os escritores nos contam como pesquisadores e palestinos são tratados pela ditadura do governo egípcio, acompanhem amanhã a entrevista completa em nosso site.
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