Riad Salameh, governador do Banco Central do Líbano, e sua família possuem um total de US$100 milhões em recursos no exterior, revelou um relatório divulgado pelo Projeto de Denúncia de Corrupção e Crime Organizado (OCCRP) e seu parceiro libanês Daraj.
A fortuna, alega o documento, foi difundida entre empresas aparentemente ligadas a Salameh e sua família. Muitos dos recursos estão investidos na forma de imóveis na Europa, a maioria na Alemanha, Bélgica e Reino Unido, incluindo um apartamento de £3.5 milhões (US$4.1 milhões), no centro de Londres.
Segundo as informações, o apartamento foi comprado por uma empresa desconhecida registrada no Panamá, no início da década de 2010. Em 2013, o endereço em Londres foi listado como residência oficial do filho de Salameh, Nady, embora ainda pertencente à empresa panamenha.
Em janeiro de 2017, a propriedade legal do imóvel foi transferida a Nady Salameh. A empresa panamenha foi dissolvida dois meses depois, segundo o relatório. Aparentemente, trata-se do modus operandi do governador, ao utilizar outras empresas estrangeiras para acumular fortuna.
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Riad Salameh, de 70 anos, chefia o Banco Central do Líbano desde 1993. Recentemente, tornou-se alvo de críticas pela forma como tratou da crise financeira no Líbano. Muitos manifestantes o responsabilizam pela crise.
O governador do Banco Central, contudo, já desfrutou de forte reputação popular, inclusive projetado como futuro presidente do país. Agora, enfrenta duras críticas por fixar a libra libanesa ao dólar americano, diante do colapso da moeda nacional, o que resultou na perda de mais de 80% de seu valor, em 2020.
Em discurso televisionado em abril, o Primeiro-Ministro Hassan Diab culpou Salameh pelo colapso cambial do país, ao afirmar que houve “lacunas de performance, estratégias, franqueza, clareza e política monetária”.
O governador do Banco Central também é criticado por seu programa de engenharia financeira, introduzido em 2016, que encobriu o verdadeiro estado da economia libanesa por anos, o que desacelerou, mas não impediu o colapso.
Salameh definiu as críticas que sofre como “campanha sistemática” para incitar a opinião pública contra ele. Apesar da enorme desaprovação a suas ações, a dimensão de sua fortuna pessoal, até então, havia escapado do escrutínio.
Em resposta às alegações do relatório, Salameh afirmou que havia acumulado fortuna considerável de US$23 milhões antes mesmo de ser indicado à liderança do Banco Central, em 1993, por meio de investimentos privados e herança; alegou, portanto, não ter violado nenhuma lei.
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