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FBI deve juntar-se a inquérito sobre explosão em Beirute, afirma representante dos EUA

14 de agosto de 2020, às 08h14

Edifícios completamente destruídos são inspecionados por voluntários após enorme explosão no porto de Beirute, capital do Líbano, 6 de agosto de 2020 [Mahmut Geldi/Agência Anadolu]

Nesta quinta-feira (13), David Hale, subsecretário dos Estados Unidos para Assuntos Políticos, afirmou que o Departamento Federal de Investigação (FBI) deverá juntar-se a um inquérito sobre a enorme explosão no porto de Beirute, capital do Líbano, na última semana.

As informações são da agência Reuters.

Hale reivindicou mudanças estruturais no Líbano, a fim de “garantir que algo do tipo jamais volte a acontecer.” Em visita a um bairro destruído em Beirute, reiterou ainda que o país árabe precisa de “reformas fiscais e econômicas, além de dar fim à governança disfuncional e a promessas vazias.”

A explosão em Beirute resultou em mais de 200 mortos, 6.000 feridos e cerca de 300.000 desabrigados por toda a cidade. O Líbano já sofria com o grave colapso financeiro, além da pandemia de coronavírus. Em torno de 30 a 40 pessoas ainda estão desaparecidas.

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Autoridades alegaram que as explosões ocorridas na região portuária, em 4 de agosto, decorreram de um enorme depósito de nitrato de amônio, armazenado por anos, sem qualquer medida de segurança.

“O FBI deverá juntar-se logo a investigadores libaneses e internacionais, a convite do Líbano, para ajudar a responder as questões sobre as circunstâncias que levaram à explosão”, declarou Hale.

O Presidente do Líbano Michel Aoun afirmou que a investigação deverá analisar se a causa do desastre foi negligência, acidente ou possível “interferência externa”. Aoun solicitou ainda imagens de satélite da França para contribuir com a apuração.

Uma embarcação da Marinha Real do Reino Unido foi encaminhada a Beirute para analisar o local das explosões.

Também nesta quinta-feira, um especialista de estudos sismológicos de Israel reportou que a explosão foi precedida por uma série de detonações, a última das quais foi representada pela combustão de fogos de artifício, registrada em vídeo.

Rachas entre facções

Autoridades libanesas estimaram perdas no valor de US$15 bilhões decorrentes da explosão, conta que o país não pode pagar. O Líbano já deixou de pagar sua enorme dívida pública, em março último. Negociações com o Fundo Monetário Internacional (FMI) não chegaram a lugar algum.

Auxílio humanitário foi enviado ao país, mas os países doadores já deixaram claro que não concederão recursos ao Líbano, diante do colapso econômico, a menos que reformas significativas abordem a corrupção e o desperdício do estado.

Hale, o terceiro diplomata em ordem de importância nos Estados Unidos, anunciou que o governo em Washington poderá apoiar qualquer novo governo, desde que “reflita a vontade do povo” e implemente reformas.

As consequências imediatas da explosão forçaram todo o gabinete de governo libanês a renunciar, no início da semana.

Entretanto, qualquer consenso para compor um novo governo poderá ser reiteradamente desencorajado, em um país com graves rachas entre facções e um sistema político sectário estabelecido para compartilhar o poder.

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A indignação popular escalou cada vez mais, contra uma elite política que governa há décadas. Segundo muitos libaneses, a culpa de todos os suplícios que assolam o país recai sobre ela.

O governo, agora em exercício, foi estabelecido em janeiro último, com apoio de diversos partidos políticos, incluindo o grupo xiita Hezbollah, que possui um braço militar pesadamente armado. Junto de seus aliados, ainda possuem a maioria dos assentos no parlamento.

Os Estados Unidos consideram o Hezbollah, ligado ao Irã, como grupo terrorista. O Ministro de Relações Exteriores do Irã Mohammad Javad Zarif pousou em Beirute, na noite de quinta-feira, segundo informações da imprensa local.

Forças de segurança foram empregadas pesadamente em Beirute, também na quinta-feira, para impedir os manifestantes de chegar à sessão legislativa.

“São todos criminosos, são eles que causaram essa catástrofe, essa explosão”, denunciou a manifestante Lina Boubess, de 60 anos de idade. “Não bastava roubar nosso dinheiro, nossas vidas, nossos sonhos e os sonhos de nossos filhos? O que mais temos a perder?”

O parlamento libanês aprovou uma decisão governamental para declarar estado de emergência no país. Ativistas condenam a medida como tentativa de reprimir qualquer dissidência ou oposição.

Não obstante, foram confirmados pedidos de renúncia de oito parlamentares, logo após a explosão.