Neste sábado (15), a Turquia condenou os comentários “intervencionistas” feitos em dezembro último por Joe Biden, atual candidato à presidência dos Estados Unidos pelo partido Democrata, quando defendeu uma nova abordagem americana diante do “autocrata” turco Recep Tayyip Erdogan, a fim de conceder apoio a partidos de oposição.
As informações são da agência Reuters.
Os comentários de Biden a editores do jornal New York Times ressurgiram em vídeo que viralizou recentemente no Twitter, no território turco. Erdogan é presidente da Turquia há dezessete anos e possui boas relações com sua contraparte estadunidense Donald Trump.
Biden, ex-vice-presidente dos Estados Unidos, declara no vídeo estar “muito preocupado” sobre as ações de Erdogan em relação aos curdos na Turquia, além da cooperação militar parcial turca com a Rússia e do acesso de Ancara a bases aéreas americanas no país, aliado relevante na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
“O que penso que deveríamos fazer é abordá-lo de modo bastante distinto, neste momento, ao deixar claro que apoiamos a liderança da oposição”, declara Biden no vídeo, conforme transcrição confirmada e publicada em janeiro, pelo New York Times.
“Ele tem de pagar o preço [por suas ações]”, prossegue Biden. Segundo o atual candidato, Washington deveria fortalecer líderes da oposição turca “para que sejam capazes de derrotar Erdogan. Não via golpe, mas sim pelo processo eleitoral”.
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Em resposta, o diretor de comunicações da presidência turca, Fahrettin Altun, afirmou que os comentários do candidato democrata “refletem jogos e abordagens intervencionistas em relação à Turquia”, de modo inconsistente com as atuais relações diplomáticas.
“Ninguém pode agredir a vontade e a democracia de nossa nação, ou questionar a legitimidade de nosso presidente, eleito por voto popular”, escreveu Altun no Twitter, ao recordar o golpe sem êxito, conduzido na Turquia, em 2016.
“Acreditamos que tais declarações impróprias não têm qualquer lugar na diplomacia de um candidato à presidência de um de nossos aliados da OTAN, no caso, os Estados Unidos; são, portanto, igualmente inaceitáveis à atual administração”, prosseguiu Altun.
Omer Celik, porta-voz do partido Justiça e Desenvolvimento (AK), liderado por Erdogan, afirmou no Twitter que nenhum agente estrangeiro pode interferir na política turca e que o governo do país não mediria esforços para salvaguardar seu modelo de democracia.
As urnas eleitorais representam a dignidade turca, alegou Celik, ao referir-se também à tentativa de golpe, em 15 de julho de 2016, supostamente coordenada pelo chamado movimento Gülen, considerado terrorista pela Turquia. O incidente militar resultou em 251 mortos e milhares de feridos.
“Nossos desinfetantes políticos são 100% eficientes contra qualquer vírus da interferência estrangeira”, alegou o porta-voz do partido governista turco.
A campanha de Joe Biden não respondeu imediatamente às acusações da Turquia.
Embora Trump e Erdogan conversem com regularidade, as relações diplomáticas entre os países enfrentam uma série de impasses, por exemplo, pela compra turca de defesas aéreas da Rússia, sua política na Síria e acusações dos Estados Unidos contra um banco estatal da Turquia, por supostamente ajudar o Irã a desviar das sanções.
O Partido Republicano do Povo (CHP), atualmente principal oposição na Turquia, angariou uma série de vitórias em grandes cidades, durante eleições realizadas em 2019, o que representou uma dura derrota a Erdogan e seu partido AK.
Contudo, segundo pesquisas, Erdogan ainda desfruta de boa popularidade em escala nacional.
Joe Biden fez os controversos comentários em 16 de dezembro de 2019, antes de emergir como candidato à presidência dos Estados Unidos pelo partido Democrata.