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O intervencionismo de Biden encontrará resistência na Turquia

O então vice-presidente dos EUA, Joe Biden (D), fala ao primeiro-ministro turco Recep Tayyip Erdogan, antes de um almoço oferecido pelo Secretário de Estado dos EUA, John Kerry, no Departamento de Estado em Washington, capital, 16 de maio de 2013 [LADEN ANTONOV / AFP via Getty Images]
O então vice-presidente dos EUA, Joe Biden (D), fala ao primeiro-ministro turco Recep Tayyip Erdogan, antes de um almoço oferecido pelo Secretário de Estado dos EUA, John Kerry, no Departamento de Estado em Washington, capital, 16 de maio de 2013 [LADEN ANTONOV / AFP via Getty Images]

O recente lançamento de um vídeo com comentários proferidos pelo candidato à presidência dos EUA, Joe Biden, sobre o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdoğan, foi severamente condenado em Ancara, como sendo “intervencionista”. Encontrado em uma entrevista ao The New York Times em 16 de dezembro de 2019, Biden foi gravado dizendo: “O que acho que nós devemos fazer é uma abordagem muito diferente a ele agora, deixando claro que apoiamos a liderança da oposição”.

Em retrospecto, os comentários de Biden foram assustadoramente semelhantes aos feitos em 1970 pelo secretário de Defesa da época, Melvin Laird, quando transmitiu suas opiniões sobre o primeiro presidente marxista eleito democraticamente, Salvador Allende, no Chile. Ele declarou em uma reunião do Conselho de Segurança Nacional: “Queremos fazer tudo o que pudermos para atingi-lo e derrubá-lo”. Três anos depois, em setembro de 1973, Allende foi derrubado por um sangrento golpe militar.

Tendo declarado sua desaprovação ao “autocrata” Erdoğan, resta saber como Biden traduzirá seu apoio à oposição, caso ele se torne o 46º presidente dos Estados Unidos. Ele adotará a opção chilena de um golpe, ou seguirá sua missão “pelo processo eleitoral”, como informou ao The New York Times em 2019?

Na entrevista de Biden ao The New York Times, ele descreveu Erdoğan como um “autocrata” e comunicou seu apoio aos líderes da oposição na derrota do presidente turco por meio do processo eleitoral.

Mesmo que Biden não siga a rota chilena, ainda há algo eticamente desagradável em seus comentários. Os EUA não têm nada a ver com mudar os governos democraticamente eleitos de outros países, muito menos a Turquia – um aliado da OTAN.

Embora os comentários de Biden tenham sido vistos como ofensivos na Turquia, eles não foram de forma alguma surpreendentes. Os Estados Unidos têm uma longa história de intervenção em países estrangeiros, o que na maioria dos casos resultou em terríveis conflitos civis.

O livro de Andrew Tully, CIA, the Inside Story (CIA, A história por dentro – tradução livre), dedica um capítulo inteiro ao envolvimento dos EUA no golpe que derrubou o 35º primeiro-ministro do Irã, Mohammad Mosaddegh. Tully lembra: “Foi em 1953, obviamente, que a CIA encenou a derrubada do primeiro-ministro Mohammed Mossadegh, aquele celebrado chorão compulsivo, que se apoderou da companhia petrolífera monopolista britânica e ameaçava fazer negócios com o Kremlin. Na época, o golpe da CIA foi saudado como um golpe para a democracia, o que foi. ” Sessenta anos depois, em agosto de 2013, a CIA admitiu publicamente pela primeira vez seu envolvimento no golpe.

LEIA: Título Comentários de Biden associam os EUA à tentativa de golpe na Turquia, sugere chanceler

Dez anos após sua intervenção no Irã, os Estados Unidos orquestraram um golpe no Vietnã do Sul. Um relatório de 2013 publicado na Foreign Policy dizia: “Os EUA devem aceitar sua cota total de responsabilidade pelo golpe de estado militar contra Ngo Dinh Diem,”. Os documentos do Pentágono revelaram: “A partir de agosto de 1963, de várias maneiras autorizamos, sancionamos e encorajamos os esforços de golpe dos generais vietnamitas e oferecemos total apoio a um governo sucessor. Mantivemos contato clandestino com eles durante o planejamento e execução do golpe e procuramos revisar seus planos operacionais e propor um novo governo ”.

Dado seu histórico anterior, não é de se admirar que as declarações controversas de Biden tenham causado indignação em toda a divisão política da Turquia. “Apenas a nação turca, não alguém dos EUA ou de outro país, pode decidir mudar seu governo e presidente”, declarou o ministro das Relações Exteriores, Mevlüt Çavuşoğlu.

Após a última tentativa de golpe em 2016, a Turquia não poupará esforços para impedir a intervenção estrangeira em sua política. Ancara afirma que Biden deve diferenciar entre o povo curdo e os grupos terroristas do PKK (Partido da Trabalhadores do Curdistão). Além disso, que na Turquia, os curdos trabalham em todos os departamentos governamentais e continuarão a contribuir para o desenvolvimento do país, como sempre fizeram.

Acontecimentos recentes em nossa região mostraram que Washington não reconhecerá um golpe como tal, se isso servir aos interesses nacionais dos Estados Unidos. O ex-secretário de Estado John Kerry recusou-se a aceitar a rotulagem da tomada militar de Abdel Fattah Al-Sisi no Egito como um “golpe”, alegando que: “Os militares não assumiram, no melhor de nosso julgamento – até agora. Para governar o país, existe um governo civil. Na verdade, eles estavam restaurando a democracia. ”

No longo prazo, não é o compromisso autodeclarado de Biden com o “processo eleitoral” que influenciará os tomadores de decisão em Ancara. Serão os métodos que ele empregará para realizar a mudança de regime que deseja. Seja qual for a forma que assuma, a intervenção dos EUA nos assuntos internos da Turquia encontrará resistência, independentemente de como os funcionários da Casa Branca decidam descrevê-la.

O Diretor de Comunicações do presidente Erdoğan, Fahrettin Altun, parecia falar por todos os turcos quando disse que as declarações de Biden: “Não têm lugar na diplomacia de um candidato presidencial de nosso aliado da OTAN.” Sem uma mudança fundamental na abordagem em relação à Turquia, a presidência de Biden parece colocada em rota de colisão para consequências de longo alcance.

LEIA: Turquia denuncia apelos de Biden para que os EUA apoiassem opositores de Erdogan

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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