A crise econômica que se aprofunda no Sudão está resultando em maiores disputas entre as lideranças civis e militares, dentro do governo de transição do país norte-africano.
Em 2019, o exército sudanês depôs o longevo ditador Omar al-Bashir, após meses de protestos populares contra o regime. Em agosto do mesmo ano, a Aliança por Liberdade e Mudança (ALM), que liderou o movimento popular, e o Conselho Militar de Transição (CMT) assumiram o poder, conforme acordo histórico sobre estágio transicional que compôs o então Conselho Soberano, junto de um governo compartilhado entre civis e militares.
O pacto estabeleceu que o tenente-general Abdel Fattah al-Burhan liderasse o Conselho Soberano e que Abdalla Hamdok liderasse o governo. Entretanto, com o crescente descontentamento popular devido à falta de soluções para a crise econômica, ambas as partes começaram a trocar acusações sobre a responsabilidade pelo colapso fiscal.
“Há uma campanha para desmantelar a instituição militar… Agora, alguns falam sobre empresas pertencentes às forças armadas”, declarou al-Burham, na segunda-feira (24), em discurso a soldados estacionados em uma zona militar de Omdurman, margem ocidental do Nilo, fronteira com a capital sudanesa Cartum.
Prosseguiu: “Quando chegamos ao poder, descobrimos que havia apenas 421 empresas estatais, das quais 200 empresas operam sob gestão do governo e 221 operam com independência. Levamos a questão ao gabinete, mas não assumiram qualquer medida”.
LEIA: Hamdok, do Sudão, diz estar disposto a renunciar se pedirem
A declaração de al-Burhan foi uma resposta a comentários prévios de Hamdok, que destacou: “Apenas 18% dos recursos econômicos do país estão sob controle do governo”.
A crise econômica no Sudão elevou as taxas de inflação a cerca de 143% em julho último, segundo estatísticas do governo. O valor da libra sudanesa caiu para 187 libras para cada dólar, no mercado negro. A taxa oficial, segundo o banco central, está em 55 libras sudanesas para cada dólar.
Al-Burhan enfatizou que as empresas do exército não possuem qualquer monopólio. “As companhias das forças armadas não detêm monopólio sobre a exportação de ouro ou bens pecuários, tampouco proibiram qualquer um de beneficiar-se dos recursos do país”, reiterou o líder militar.
LEIA: Garimpeiros destroem sítio arqueológico de dois mil anos no Sudão
O Conselho Soberano consiste de onze membros: seis civis e cinco militares.
Algumas empresas pertencentes ao exército operam nos setores agrário e farmacêutico; outras administram hospitais privados e complexos industriais militares, além de exportar carne vermelha.