A Faixa de Gaza entrou em lockdown nesta terça-feira (25) após registrar os primeiros casos de covid-19 entre a população geral do território palestino. Até então, a instalação de centros de quarentena e as fronteiras restritas por agentes externos ajudaram a região a impedir um surto da doença.
Autoridades de saúde no território controlado pelo Hamas demonstraram preocupação sobre a potencialmente desastrosa combinação de pobreza, campos de refugiados densamente povoados e instalações médicas limitadas, para lidar com eventual surto.
Um porta-voz do governo reportou que quatro casos foram descobertos após uma mulher viajar à Cisjordânia e testar positivo para coronavírus. Quatro membros de sua família testaram positivo em Gaza, os primeiros casos fora dos centros de quarentena.
Eyad al-Bozom, porta-voz do Ministério da Saúde, afirmou que a família esteve em contato com muitas outras pessoas no campo de refugiados de Maghazi, região central de Gaza. O campo agora está isolado do restante do território de 360 km².
“Comitês de investigação sobre a pandemia estão conduzindo os testes necessários para acompanhar as condições das quatro pessoas infectadas e daqueles que estiveram em contato com elas”, declarou Bozom.
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Negócios, escolas e mesquitas foram fechados na segunda-feira (24). Em boa parte, as ruas do território palestino ficaram vazias. Policiais patrulharam as ruas e utilizaram alto-falantes para impor um toque de recolher de 48 horas.
“O movimento das pessoas está proibido salvo extrema necessidade. Quando preciso mover-se, por questão urgente, as pessoas devem usar máscaras”, alertou a nota do ministério, ao reiterar que “medidas legais” serão tomadas contra quem desrespeitar os protocolos.
Israel e Egito mantêm duras restrições na fronteira fortificada do território litorâneo. A maioria dos palestinos de Gaza possui pouco ou nenhum acesso ao mundo externo. Hospitais costumam sofrer com a falta de suprimentos médicos. Ambos os países responsáveis pelo cerco contra Gaza alegam preocupações de segurança sobre o Hamas.
“O que acontece se um de nós se infectar?”, questionou Khaled Sami, residente de Gaza. “Quando as pessoas adoecem seriamente, são enviadas a Israel, Cisjordânia ou Egito. Tudo está fechado agora e quem abrirá as portas para pacientes de coronavírus?”
Ainda na terça-feira, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que os hospitais de Gaza atualmente têm capacidade para atender 350 pacientes de covid-19, em uma população de dois milhões de pessoas.
O dr. Ayadil Saparbekov, chefe da equipe local da OMS para emergências sanitárias, afirmou que trabalhará com as autoridades de Gaza para converter tendas médicas utilizadas durante protestos em instalações para triagem de pacientes de covid-19.
“Assim, os médicos podem identificar se possuem sintomas, para não enviá-los de imediato aos hospitais e arriscar o contágio de todos ali”, prosseguiu Saparbekov.
Usuários das redes sociais ofereceram mensagens de solidariedade e encorajaram as pessoas de Gaza a permanecer em casa.
“Ficaremos nos hospitais para protegê-los. Fiquem em casa por nós”, declarou uma postagem compartilhada junto de fotografias de médicos palestinos da Faixa de Gaza.
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