Ahmed Mansour e seus colegas trabalharam oito meses sem salário em um centro de saúde localizado em um campo de deslocados internos no Iêmen, diante de grave preocupação por seus pacientes. Em agosto, no entanto, a clínica fechou as portas.
“Basta, não podemos continuar”, declarou Mansour, que trabalha no setor administrativo e concede apoio financeiro também à família de seu irmão falecido. Seu salário, quando ainda era pago, estava em torno de US$180 por mês.
Em todo o Iêmen, os serviços de saúde, saneamento e nutrição, que protegem milhões de pessoas da fome e de doenças, estão gradualmente fechando suas portas, conforme grave queda no envio de recursos para aquela considerada a maior crise humanitária do mundo.
Na última semana, a ONU alertou que doze de seus 38 programas majoritários foram encerrados ou reduzidos; entre agosto e setembro, outros 20 programas deverão passar pelo mesmo processo.
No campo de refugiados internos de Mahraba, na província de Hajjah, a residente Fatehia Jaber continua voltando à sua clínica local, uma tenda com o logotipo do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), para checar se foi reaberta.
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“Meu filho está doente, mal consegue respirar… Vivemos em uma situação instável e precisamos de um hospital operante”, declarou Jaber, em sua residência provisória.
A economia e o sistema de saúde do Iêmen foram devastados pelos cinco anos de guerra civil. Muitos trabalhadores de saúde e outros funcionários públicos não recebem pagamento por até três anos.
Agências humanitárias tentam manter serviços críticos, operando com o mínimo para conceder pequenos incentivos financeiros às suas equipes. Esta muleta assistencial agora parece desmoronar, à medida que secam os recursos.
Em breve retrato do que ocorre por todo o Iêmen, quatro clínicas com apoio da Unicef e outros parceiros, com cerca de 119 funcionários, fecharam as portas temporariamente, em campos precariamente instalados para a população deslocada em Hajjah, uma das regiões mais pobres do Iêmen.
“Apoio de agências humanitárias para serviços críticos como saúde e nutrição estão declinando gradualmente devido à falta de recursos”, reportou Sherin Varkey, representante da Unicef para o Iêmen. A Unicef carece de 64% do total de recursos humanitários necessários para preservar os serviços assistenciais, destacou Varkey.
A resposta humanitária do Iêmen apresentou tamanha queda em 2020 por diversos fatores, incluindo demandas concorrentes, como a pandemia de coronavírus, e preocupações de doadores sobre a interferência de autoridades locais na distribuição de recursos.
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“O Iêmen ainda está entre os piores contextos para se trabalhar: temos restrições, interferência, bombardeios e pandemia. No Iêmen, contudo, o problema número um agora é o financiamento”, afirmou Jan Egeland, chefe do Conselho de Refugiados da Noruega, à agência Reuters.
Cinco anos de guerra resultaram em mais de 100.000 mortos e deixaram 80% da população dependente de auxílio; milhões de pessoas estão sob risco de fome.
“As crianças estão doentes. As mulheres grávidas estão doentes … O que fizemos para merecer isso?”, questionou Yahya Shamsan, residente de um campo iemenita.