O presidente francês Emmanuel Macron enviou um roteiro aos políticos libaneses delineando as reformas políticas e financeiras exigidas para desbloquear a ajuda externa e resgatar o país de múltiplas crises, incluindo um colapso econômico, relata a Reuters.
O “documento conceitual” de duas páginas entregue pelo embaixador francês em Beirute e obtido pela Reuters apresenta medidas detalhadas, muitas delas exigidas por doadores estrangeiros.
As condiçõesReuters incluem uma auditoria do banco central, nomeação de um governo interino capaz de promulgar reformas urgentes e eleições legislativas antecipadas dentro de um ano.
Procurado, um funcionário do Ministério das Relações Exteriores da França não quis comentar. O escritório de Macron não respondeu imediatamente a um pedido de comentário da Reuters.
O atual governo provisório do Líbano, que assumiu o cargo em janeiro com o apoio do movimento Hezbollah apoiado pelo Irã e seus aliados, não conseguiu avançar nas negociações com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para um resgate devido à inação nas reformas e uma disputa sobre o tamanho das perdas financeiras.
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O governo renunciou devido à enorme explosão do porto de Beirute neste mês, que matou pelo menos 180 pessoas, feriu cerca de 6.000 e destruiu bairros inteiros, e que reacendeu os protestos contra uma elite política por causa da corrupção endêmica e má gestão que levou o país a uma profunda crise financeira.
“A prioridade deve ser a formação rápida de um governo, para evitar um vácuo de poder que deixará o Líbano afundar ainda mais na crise”, diz a Reuters.
A agência francesa enumera quatro setores que precisam de atenção imediata, de acordo com o documento: ajuda humanitária e resposta das autoridades à pandemia de covid; reconstrução após a explosão de 4 de agosto; reformas políticas e econômicas e uma eleição parlamentar antecipada.
Também é cobrado progresso nas negociações do FMI e na supervisão das Nações Unidas sobre os fundos humanitários internacionais prometidos ao Líbano nas últimas semanas, bem como uma investigação imparcial sobre a causa da detonação de grandes quantidades de material altamente explosivo armazenado de forma insegura no porto por anos .
Macron visitou Beirute logo após a explosão e deixou claro que nenhum cheque em branco seria dado ao estado libanês se ele não promulgasse reformas contra desperdício, corrupção e negligência.
Desde então, ele realizou vários telefonemas com os principais líderes políticos do sistema sectário que divide o poder do país, segundo uma fonte política libanesa. Macron deve retornar a Beirute em 1º de setembro.
Rivalidades políticas e interesses partidários impediram a formação de um novo governo capaz de enfrentar a crise financeira que devastou a moeda, paralisou o sistema bancário e espalhou a pobreza.
O documento conceitual francês enfatiza a necessidade de uma auditoria imediata e completa das finanças do Estado e da reforma do setor de energia, que sangra fundos públicos e não fornece eletricidade adequada.
O Parlamento deve promulgar as leis necessárias para efetuar mudanças no período interino, disse. “Os partidos devem ser engajados para votar as principais medidas que o novo governo tomará nos próximos meses.”
O roteiro pode aprofundar o papel da França no Líbano, uma ex-colônia francesa.
A agência afirma que Paris vai desempenhar um papel importante na reconstrução do porto de Beirute, reforçar a saúde, enviar equipes de seu tesouro e banco central para apoiar a auditoria financeira e ajudar a organizar a votação parlamentar antecipada, junto com a União Europeia.
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