Uma plataforma de saúde à distância, desenvolvida com parceria saudita-paquistanesa, deve ser lançada em breve no Iêmen, para fornecer cuidados de maternidade e pediatria, em meio ao conflito e à crise humanitária que assolam o país.
As informações são da rede Arab News.
A plataforma Educast foi lançada no Paquistão e obteve êxito ao treinar centenas de médicos paquistaneses no campo da telemedicina, desde 2019. Agora deve expandir-se ao Iêmen, devastado pela guerra civil, que sofre uma das mais altas taxas de mortalidade do mundo.
Segundo Abdullah Butt, diretor executivo da Educast: “Nosso principal foco no Iêmen será pediatria, maternidade e saúde neonatal. [As autoridades iemenitas] nos concederam permissão para começar as operações de telemedicina sob o programa e-Doctor”.
LEIA: Iemenitas deslocados sofrem com fechamento de clínicas, devido à falta de apoio humanitário
A instalação e testagem de equipamentos necessários foi concluída, anunciou Butt; operações serão lançadas na primeira semana de setembro.
Como parte dos preparativos para a expansão de seu programa, a Educast reuniu uma equipe de 200 médicas mulheres licenciadas e fluentes em árabe, espalhadas por todo o Oriente Médio. As médicas fornecerão consultas online para cidadãos no Iêmen. Além do serviço individual, teleclínicas serão instaladas no país.
Muitos dos médicos foram treinados pela Educast com apoio acadêmico da Universidade Dow de Ciências da Saúde, em Carachi, Paquistão. A iniciativa e-Doctor tornou-se possível ao recrutar médicas mulheres que deixaram a profissão por questões pessoais, como casamento.
“Oferecemos treinamento online para 800 médicas mulheres da e-Doctor, trabalhando remotamente de suas casas, em 15 países”, detalhou Butt. “Atualmente, através da plataforma, 450 médicas estão vinculadas à célula de monitoramento do coronavírus do governo central da província de Sind, que supervisiona remotamente milhares de pacientes de covid-19.”
A pandemia em curso é uma grave ameaça à situação sanitária e humanitária no Iêmen, cujo sistema de saúde é um dos menos preparados para tratar da crise, em todo o mundo. O Iêmen registrou até então quase 2.000 casos da doença e 560 mortes.
A equipe também deverá treinar trabalhadores de saúde locais, segundo Ghulam Mustafa Tabbasum, chefe de operações da plataforma no território iemenita. “Por meio deste projeto, médicas, enfermeiras e paramédicas serão treinadas por especialistas através de nossas palestras interativas online.”
A expansão da Educast ao Iêmen ocorre em um momento crucial. Serviços de saúde lutam contra a pandemia e os efeitos da guerra travada entre a coalizão liderada pela Arábia Saudita e rebeldes houthis, ligados ao Irã. A guerra está em curso desde 2015, quando o exército saudita e aliados intervieram no país.
Em julho, por exemplo, diversos trabalhadores de saúde demitiram-se de seus postos no Iêmen, por receios do coronavírus, que até então resultou em 97 mortes no setor, precariamente equipado para a situação.
Os setores de maternidade e pediatria estão entre os mais afetados. Em maio, a ONU alertou que 320.000 mulheres grávidas estavam sob risco de perder acesso a tratamentos essenciais. Em junho, a ONU voltou a destacar que 2.4 milhões de crianças iemenitas ainda estão sob risco de fome.
LEIA: Cem mil pessoas sofreram deslocamento no Iêmen devido a guerra e covid-19, em 2020