Centenas, senão milhares de migrantes negros africanos estão presos em condições miseráveis em centros de detenção de coronavírus da Arábia Saudita, uma reminiscência dos campos de escravos da Líbia, de acordo com uma investigação do Sunday Telegraph.
Imagens publicadas pelo jornal, tiradas por migrantes em seus telefones celulares, mostram centenas de homens macilentos deitados em fileiras dentro de pequenas salas com janelas gradeadas, muitos dos detidos estavam sem roupas de baixo.
“É um inferno aqui. Somos tratados como animais e espancados todos os dias ”, disse Abebe, um etíope que está detido em um dos centros há mais de quatro meses.
African migrants are being 'left to die' in Saudi Arabia's detention camps to stop spread of COVID-19. Inmates are suicidal and have a declining mental health as one reported that he would "take his own life if there was no escape". #BlacklivesStillMatter#BlackLivesMatter pic.twitter.com/lJfwony4Ip
— الویش (@AlvishAamir) August 30, 2020
Outro migrante explicou que os guardas apenas jogam os corpos para fora “como se fossem lixo”, enquanto pelo menos um jovem de 16 anos já teria se suicidado e pode ser visto pendurado em uma janela, por não ter conseguido continue vivendo no centro. Vários dos migrantes exibem cicatrizes nas costas e afirmam que são espancados por guardas que fazem violência racial contra eles. Outros centros de detenção supostamente abrigam mulheres.
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A maioria dos homens seriam etíopes que vieram para a Arábia Saudita em busca de escapar da pobreza em seu país. Alguns chegaram depois de terem sido recrutados por agentes sauditas ou traficantes de seres humanos. Dezenas de milhares fizeram seu caminho na última década, diz a reportagem. Alguns dos migrantes africanos são do vizinho Iêmen, devastado pela guerra.
Fotos de centros de detenção no sul da Arábia Saudita mostram que as autoridades de lá estão submetendo os migrantes do Chifre da África a condições miseráveis, superlotadas e desumanizantes, sem se importar com sua segurança ou dignidade
A informação reproduzida no jornal é de Adam Coogle, vice-diretor da Human Rights Watch no Oriente Médio.
Após a eclosão da pandemia do coronavírus em março, as autoridades sauditas temiam que os migrantes africanos, muitas vezes alojados em condições de superlotação, fossem portadores do vírus. Quase três mil foram deportados para a Etiópia nos primeiros dez dias de abril e um memorando da ONU que vazou dava conta de que mais 200 mil teriam o mesmo destino, de acordo com a reportagem.
A pandemia não é a única razão apresentada para o tratamento dos migrantes. A “saudização” da força de trabalho do reino, uma política introduzida pelo príncipe herdeiro Muhammad bin Salman, também teria levado a uma reação contra os migrantes africanos.
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