O governo da Arábia Saudita ordenou a realização de um inquérito sobre a principal fundação filantrópica do príncipe herdeiro Mohammed Bin Salman (MBS), após suposto envolvimento em uma série de escândalos.
As informações foram concedidas por um oficial saudita, em condição de anonimato, ao jornal britânico Financial Times.
A fonte reportou que a fundação filantrópica Misk, fundada por MBS, está agora sob análise oficial, após o Departamento de Justiça dos Estados Unidos indicar seu envolvimento em atividades clandestinas, incluindo espionagem em nome do príncipe e recrutamento ativo de agentes em solo americano, via Twitter.
A queixa legal registrada em novembro último, encabeçada pelas denúncias do ex-chefe da inteligência saudita Saad Al-Jabri, delatou o provável envolvimento da organização administrada pelo príncipe herdeiro em tais atividades ilegais.
Al-Jabri, exilado no Canadá, foi alvo de uma tentativa frustrada de assassinato, supostamente conduzida pela inteligência saudita, em 2018.
Embora o processo registrado pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos deixe de mencionar nominalmente a fundação Misk e seu ex-secretário-geral Bader Al-Asaker, o documento de fato sugere envolvimento de ambos, ao referir-se à “organização n°1”, fundada por um nobre saudita e gerida por um indivíduo identificado como “oficial estrangeiro n°1”.
As informações, embora vagas, coincidem com o indiciamento da fundação Misk e Al-Asaker como réus no processo referido em agosto, ao lado do próprio príncipe herdeiro.
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O processo de Al-Jabri garantiu posteriormente que a organização e o oficial supracitados coincidem com Misk e Al-Asaker, ao acusá-los de conspirar com o príncipe herdeiro para “recrutar clandestinamente indivíduos, para que sirvam como agentes e participem na caçada”, em particular, contra o ex-oficial saudita, em território dos Estados Unidos.
A queixa alega que ex-funcionários do Twitter, acusados de espionar contas em nome da Arábia Saudita, entre 2014 e 2015, estiveram em contato com o “oficial estrangeiro n° 1”, responsável por oferecer “presentes, pagamentos em dinheiros e promessas de emprego, em troca de informação privada sobre usuários da rede social”.
Tais informações seriam utilizadas tanto para monitorar, quanto para rastrear dissidentes e críticos sauditas, como Al-Jabri.
Segundo o oficial saudita não-identificado, as alegações contra a fundação Misk trouxeram “escrutínio a algo que realizou coisas fenomenais”. Afirmou a fonte: “Tenho bastante certeza de que o príncipe herdeiro ficou furioso com a ligação de sua coroa [ao escândalo]”.
A queixa de Al-Jabri alega que as suspeitas sobre o papel da fundação filantrópica em tais delitos surgiram em meados de 2017, quando alguns funcionários do ex-oficial perguntaram a seu filho sobre detalhes de contato dos pais e informações de residência nos Estados Unidos.
O incidente supostamente condiz com o momento no qual o príncipe herdeiro enviou mensagens de ameaça a Al-Jabri, após fugir do reino. Mohammed Bin Salman tentou coagir seu ex-chefe de inteligência a retornar à Arábia Saudita.
Segundo o Financial Times, a fundação Misk não respondeu a pedidos do departamento de imprensa saudita para comentar o caso.
A fundação filantrópica Misk foi fundada por MBS supostamente “para cultivar e encorajar o aprendizado e a liderança nos jovens, a fim de conquistar um futuro melhor na Arábia Saudita”. Tornou-se centro da campanha de restauração da imagem do reino, em âmbito internacional.
Ao longo dos anos, a fundação do príncipe herdeiro conseguiu estabelecer parcerias com organizações proeminentes, como a Organização das Nações Unidas, a Fundação Gates, a corporação Bloomberg, a Universidade de Harvard e o conglomerado internacional General Electric.
Após o assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi, dentro do consulado saudita em Istambul, Turquia, em outubro de 2018, além de outros escândalos emergentes, a Fundação Gates e a Universidade de Harvard decidiram romper laços com a Misk. As outras entidades, contudo, mantêm relações.