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Soldados de Myanmar confessam genocídio contra muçulmanos rohingyas

carrega seus sapatos perto de um campo de refugiados instalado para o povo rohingya, em Bangladesh, 8 de dezembro de 2017 [Damir Sagolj/Reuters]
carrega seus sapatos perto de um campo de refugiados instalado para o povo rohingya, em Bangladesh, 8 de dezembro de 2017 [Damir Sagolj/Reuters]

Dois soldados de Myanmar confirmaram, pela primeira vez em vídeo, as atrocidades cometidas pelo exército contra a minoria islâmica rohingya, no país do sudeste asiático. Os dois desertores relataram à câmera que receberam ordens para executar assassinatos e estupros em massa, em 2017.

Grupos de direitos humanos confirmaram que o testemunho dos soldados de fato coincide com relatos dos sobreviventes dos massacres cometidos no estado de Rakhine, na costa ocidental de Myanmar.

A ong Fortify Rights declarou que o testemunho – que também denuncia a existência de valas comuns, utilizadas para enterrar homens, mulheres e crianças – pode ser utilizado como evidência dos crimes de lesa-humanidade cometidos no país, diante do processo no Tribunal Penal Internacional (TPI). Segundo a ong, os dois soldados fugiram do país em agosto e são mantidos sob custódia em Haia.

Myo Win Tun e Zaw Naing Tun concederam “os nomes e postos na hierarquia de dezenove responsáveis diretos pelos crimes em questão, todos membros do Exército de Myanmar, incluindo seus próprios nomes e seis comandantes de alto escalão … acusados de ordenar ou colaborar com as atrocidades cometidas contra os rohingya.”

De acordo com Myo Win Tun, o comandante do 15° Centro de Operações Militares deu ordens expressas para “atirar contra tudo que ver e ouvir”, ao invadir aldeias islâmicas. Os relatos sugerem que, durante uma única operação, foram assassinadas oito mulheres, sete crianças e quinze homens e idosos.

“Também estupramos mulheres muçulmanas antes de matá-las”, confessou Myo Win Tun. “Alguns cabos, sargentos e comandantes também cometeram estupros. Eu mesmo estuprei uma mulher, em uma ocasião.”

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O governo de Myanmar nega consistentemente as acusações de genocídio contra a minoria islâmica. Previamente, em 2020, alegou que as acusações são baseadas em uma “imagem distorcida da situação”, após o Tribunal Penal Internacional advertir o país contra a limpeza étnica do povo rohingya.

A ONU afirma que ao menos 10.000 pessoas foram mortas e mais de 700.000 pessoas fugiram do estado de Rakhine, desde a violenta repressão militar em 2017, após revolta conduzida pelo Exército de Salvação dos Rohingya de Arracão, no ano anterior.

Milhares de mulheres e meninas rohingya sofreram estupro, no período entre 2017 e 2019. Cerca de duzentas aldeias rohingya foram completamente destruídas.

O Exército de Salvação dos Rohingya de Arracão foi formado após levantes da minoria islâmica em 2012, em resposta a ataques contra aldeias rohingya que resultaram no deslocamento forçado de dezenas de milhares de pessoas.

A organização internacional Human Rights Watch descreve os incidentes, executados com ordem e apoio direto das autoridades de Myanmar, como “limpeza étnica”.

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