Você ouvirá muitas vezes sobre o Iêmen na televisão, mas pelos motivos errados.
O país está constantemente nos noticiários desde que mergulhou na guerra, após o grupo Houthi, apoiado pelo Irã, tomar a capital Sanaa no final de 2014, desencadeando uma das maiores crises humanitárias do mundo.
Antes disso, muitos teriam ouvido falar do Iêmen pela primeira vez por meio de Friends, considerado um dos melhores comédias de televisão de todos os tempos. Mas, ao contrário de Chandler Bing, não é preciso fugir de uma namorada chata para visitar o país.
O país mais pobre da Península Arábica, é um dos mais ricos em história e patrimônio da região, lar de algumas das primeiras civilizações e reinos mais antigos do mundo.
A Cidade Velha de Sanaa é uma das cidades mais antigas do mundo. Significando “palácio fortificado”, continua sendo um dos maiores tesouros da Arábia. Segundo a lenda, foi fundado por Shem, um dos três filhos do Profeta Noah.
Representada por distintas casas de taipa e torres de tijolos queimados, a cidade murada foi habitada por mais de 2.500 anos e abriga a antiga fortaleza pré-islâmica de Ghumdan, um palácio de 20 andares que se acredita ser o primeiro “arranha-céu” do mundo .
Ao passar pelo icônico ‘Portão do Iêmen’, o único dos sete portões históricos da cidade que ainda existe, você se sentirá como se tivesse voltado no tempo.
Como uma obra de arte elaborada em um amplo museu ao ar livre, mais de 6.000 casas construídas antes do século 11 estão dentro das antigas muralhas da cidade, bem juntas e conectadas por uma rede aberta de ruas estreitas e becos.
A cidade manteve de forma notável, o seu ambiente histórico e esplendor ao longo dos séculos, permanecendo intocada pela arquitetura moderna, mantendo um ritmo confortável entre seu tecido arquitetônico tradicional e as exigências da vida moderna.
Encantadores em sua simplicidade e homogeneidade, os vários edifícios de barro queimado adornados com intrincados padrões geométricos e impressionantes detalhes brancos, reverberam a vasta tradição religiosa e cultural da cidade influenciada por sua herança árabe, islâmica e judaica.
A antiga cidade costumava ser um importante centro comercial no sul da Arábia e um importante centro religioso para judeus e cristãos. Nos séculos sétimo e oitavo, tornou-se um local privilegiado para a propagação do Islã, após a conversão à religião por Ali Ibn Abi Talib, o quarto califa e genro do Profeta Maomé/Muhammad (que a paz esteja com ele).
Sanaa logo se tornou o lar da Grande Mesquita, a primeira mesquita a ser construída fora das cidades sagradas de Meca e Medina. Acredita-se que tenha sido construído durante a vida do Profeta Muhammad.
Em 1986, a Cidade Velha de Sanaa foi listada como Patrimônio Mundial da UNESCO.
No coração da Cidade Velha e em seu ponto mais alto está o Hotel Burj Al-Salam de quatro estrelas, outrora repleto de hóspedes que vinham de todo o mundo para experimentar um pouco do estilo de vida iemenita e ver a cidade a partir do terraço panorâmico no décimo andar do hotel.
A agitação tomou conta do país desde que a Primavera Árabe varreu a região em 2011, levando a uma intensificação das lutas internas entre o grupo Houthi apoiado pelo Irã e o governo internacionalmente reconhecido do país em 2014.
Uma coalizão militar liderada pela Arábia Saudita lançou uma ofensiva em 2015, em apoio ao governo reconhecido internacionalmente. Desde então, a luta ceifou a vida de dezenas de milhares de pessoas, danificou grande parte do patrimônio arqueológico do país e levou o Iêmen à beira da fome.
Como resultado, as construções do Iêmen foram colocadas na Lista do Patrimônio Mundial em Perigo.
Como se a Cidade Velha de Sanaa não tivesse visto destruição e abandono suficientes devido à guerra e ao conflito, as recentes inundações e chuvas fortes também levaram ao colapso de 111 de seus edifícios históricos, incluindo a casa do poeta mais famoso do Iêmen, o falecido Abdullah Al-Bardouni.
O país não viu muito turismo desde o início dos combates. Hoje, os governos mundiais alertam contra qualquer viagem ao Iêmen.
Mas, apesar de toda a devastação que se abateu sobre Sanaa ao longo dos séculos, a Cidade Velha resistiu a eras de turbulência política e desastres naturais. Enquanto os iemenitas hoje lutam economicamente e não podem comprar nem mesmo as necessidades básicas, os artesãos e comerciantes iemenitas continuam a injetar vida nos souks da cidade. Com cores, sons e aromas apresentam as melhores especiarias do Iêmen: café, tâmaras, joias e o famoso tradicional “Jambia”, com a esperança de que um dia a paz e a estabilidade sejam restauradas ao país devastado pela guerra. Para que com isso, seus habitantes locais, hospitaleiros e amigáveis, possam mais uma vez exibir sua herança aos visitantes e mostrar ao resto do mundo o que este país maravilhoso tem oferecer.
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