Uma carta aberta assinada por vinte proeminentes figuras anglopalestinas, incluindo acadêmicos, jornalistas, empresários, filantropos, músicos e advogados, expressou preocupações sobre o espaço cada vez menor para discussões sobre a luta palestina dentro do Partido Trabalhista do Reino Unido.
A carta manifestou receios sobre a decisão da liderança trabalhista de adotar a controversa definição sobre antissemitismo da Aliança Internacional para a Memória do Holocausto (IHRA), sem referência a preocupações concernentes a direitos humanos e possibilidade de mobilização de membros do partido em busca de justiça ao povo palestino.
Kenneth Stern, um dos proponentes da definição, alertou sobre os riscos de militarizar o código da IHRA de modo a associar o antissemitismo com críticas a Israel, em onze dos treze exemplos mencionados pela entidade internacional.
O código da IHRA é bastante criticado pela sociedade civil palestina, além de oitenta organizações negras, asiáticas e outras minorias, incluindo o movimento Black Lives Matter UK, membros da comunidade judaica, especialistas e acadêmicos em direito sobre antissemitismo e o Instituto para Relações Raciais.
Apesar das preocupações, o novo Secretário-Geral do Partido Trabalhista David Evans recentemente escreveu ao eleitorado do partido vetando qualquer debate ou discussão sobre a definição.
A carta observa que os signatários já expressaram receios sobre “como o espaço para trazer publicamente fatos sobre a história do povo palestino e a expropriação em curso está sob severa ameaça”. Os signatários reiteraram que tais efeitos alarmantes sobre questões relativas a Israel e Palestina penetraram no Partido Trabalhista, o que os levou a emitir uma segunda carta aberta.
“Acreditamos que um Partido Trabalhista internacionalista possui uma responsabilidade especial em retratar as injustiças em curso contra o povo palestino”, declarou a carta aberta, ao argumentar que a população nativa do território teve “negado seus direitos a autodeterminação durante o Mandato Britânico, devido ao papel britânico que levou à Nakba de 1948, quando palestinos foram expulsos à força de suas casas”.
LEIA: Silenciados e esquecidos: palestinos e a cobertura midiática frente ao desastroso acordo EAU-Israel
A carta elogiou a postura do Partido Trabalhista sobre os planos israelenses de anexação da Cisjordânia ocupada, mas também expressou receios sobre a direção do partido.
“Permanecemos profundamente preocupados sobre passos tomados dentro do Partido Trabalhista que servirão apenas para encolher o espaço disponível a cidadãos anglopalestinos e outros membros, que queira asseverar seus direitos de mobilização pelo fim da opressão contra o povo palestino”, prosseguiu a carta.
“Respeitosa, mas inequivocamente, rejeitamos qualquer sugestão de que abordar o antissemitismo deve necessariamente reverter compromissos políticos para proteger os direitos palestinos”, enfatizou a carta aberta.
O respeito pelos direitos palestinos é compatível com a luta contra o racismo e o antissemitismo; de fato, é parte integral desta luta.
A carta destacou ainda que antissemitismo e antissionismo são conceitos distintos, ao afirmar: “O sionismo é uma ideologia política e movimento que levou à expropriação de nossas terras e que sustenta um estado que nos discrimina e nega nossos direitos coletivos, seja como vítimas da ocupação militar, da cidadania desigual dentro do estado israelense ou no exílio, como refugiados sem o devido direito de retorno.”
Os signatários relataram “apreensão” pela forma como a IHRA é utilizada dentro dos conselhos trabalhistas, de modo que a controversa definição é aplicada para efetivamente “limitar os direitos palestinos e de outros indivíduos e grupos que agem em seu nome”.
Por fim, a carta insistiu nos direitos de palestinos e cidadãos em geral de descrever a natureza da opressão na Palestina ocupada sem qualquer censura à liberdade de expressão.
“Reiteramos nosso apelo para que seja respeitado o direito dos palestinos de descrever com precisão suas experiências de opressão e desapropriação, criticar a natureza e estrutura do estado que continua a oprimí-los e denunciar abertamente a ideologia do sionismo, que orienta as práticas, políticas e leis do estado, tanto como direito de um povo sob opressão, quanto como direito à liberdade de expressão, devidamente respeitado e apoiado pela liderança do Partido Trabalhista”, concluiu a carta.
LEIA: Lobby pró-Israel difama o movimento Black Lives Matter como ‘terrorista’