O Secretário de Estado dos Estados Unidos Mike Pompeo está em uma corrida contra o tempo para resolver a disputa de seu país com o Sudão, semanas antes da data marcada para as eleições presidenciais americanas.
Como costuma acontecer quando se trata da diplomacia dos Estados Unidos, Israel não está longe dos motivos ocultos do presidente e candidato Donald Trump.
“Os Estados Unidos têm uma oportunidade única de garantir que a compensação seja finalmente fornecida às vítimas dos ataques terroristas de 1998, perpetrados pela Al-Qaeda contra nossas embaixadas no Quênia e Tanzânia”, escreveu Pompeo em carta ao Senado.
“Também temos uma única e estreita janela para apoiar o governo de transição liderado por civis no Sudão, que finalmente se livrou da ditadura islâmica”, afirmou.
A questão central relacionada a este assunto é o nome do Sudão na lista dos Estados Unidos de países acusados de patrocinar o terrorismo.
A punição, que impediu investimentos essenciais no país do nordeste africano, data de 1993. A crise se agravou com os atentados de 1998, que resultaram na morte de mais de 200 pessoas.
Naquela época, quando Omar Al-Bashir ainda era presidente, acusado de dar abrigo ao líder da Al-Qaeda Osama Bin Laden por anos, os Estados Unidos tratavam o Sudão como pária internacional.
Nos últimos anos, porém, Washington mudou de ideia quando Bashir começou a cooperar com a administração americana em sua “guerra ao terrorismo”, além de consentir com a independência do Sudão do Sul.
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O ex-presidente democrata dos Estados Unidos Barack Obama, depois Trump, fizeram questão de se reconectar com Cartum. Mesmo antes da queda de Bashir, em 2019, os Estados Unidos haviam iniciado um diálogo para remover o Sudão de sua lista de estados terroristas
Negociações nos bastidores
A revolta popular que derrubou o antigo regime sudanês na primavera de 2019 acelerou a iniciativa diplomática supracitada. Pompeo não mediu esforços para demonstrar apoio ao chefe do governo de transição, Abdalla Hamdok.
No entanto, as negociações tropeçaram no espinhoso processo de indenização às famílias das vítimas dos ataques de 1998.
Uma porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos revelou que Pompeo, responsável pela pasta, agora acredita em uma solução próxima, ao fazer do assunto “uma de suas principais prioridades”.
O plano de Pompeo estipula que Cartum deposite os fundos em uma conta bloqueada, que só será paga aos Estados Unidos para compensar os demandantes. A mídia americana informou que o valor total dos pagamentos é de US$ 335 milhões.
Como condição, o acordo exige a retirada do Sudão da lista de estados acusados de patrocinar o terrorismo e a adoção de um projeto de lei que proclama a paz legal com Cartum, para evitar o risco de novos processos no futuro.
Em sua carta, Pompeo pressiona o Congresso dos Estados Unidos a votar esta disposição.
“Esta lei deve entrar em vigor em meados de outubro, o mais tardar, para garantir que o dinheiro de indenização seja pago às vítimas assim que o Sudão seja removido da lista de países que patrocinam o terrorismo”, destaca o documento.
Tais ações indicam claramente que o governo de Donald Trump está pronto para suspender a punição simbólica do Sudão antes das eleições presidenciais de 3 de novembro.
Senadores de todas as afiliações declararam seu apoio ao pedido de Pompeo. Contudo, há preocupações dentro da administração dos Estados Unidos sobre uma potencial resistência a esse projeto por parte de democratas influentes.
Mas por que tanta ansiedade por parte de um Secretário de Estado que antes não havia demonstrado qualquer interesse pelo continente africano?
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É provável que haja outro assunto caro à administração de Trump por trás destes esforços.
Pompeo foi a Cartum no final de agosto, primeira visita de um Secretário de Estado dos Estados Unidos em 15 anos, em meio a uma turnê para persuadir países árabes a normalizar as relações com Israel.
O campo do candidato presidencial republicano pretende se beneficiar dos dois acordos firmados durante seu mandato entre Israel, de um lado, e os Emirados Árabes Unidos e Bahrein, de outro. Os pactos de normalização são promovidos como conquista diplomática que faltava ao histórico de Trump. Quanto mais a agenda de Trump se torna favorável aos interesses israelenses, mais provável é que mobilize eleitores evangélicos.
Hamdok aparentemente frustrou as esperanças dos Estados Unidos ao afirmar que seu governo “não tem mandato” para tomar uma decisão sobre questão tão delicada. Porém, de acordo com vários observadores, as negociações continuam nos bastidores.