A plataforma de videoconferência online Zoom cancelou um seminário sediado pela Universidade do Estado de San Francisco (SFSU) no qual Leila Khaled, ícone da resistência palestina, estava entre os convidados.
O Facebook e YouTube também censuraram o evento. Ambos, segundo a rede Electronic Intifada, têm histórico de censurar palestinos em nome de Israel.
“O Zoom está comprometido em apoiar a troca aberta de ideias, sujeita a certas limitações contidas em nossos Termos de Serviço, incluindo relacionadas ao cumprimento de leis de controle alfandegário, sanções e antiterrorismo dos Estados Unidos”, alegou o Zoom em nota.
“Diante da suposta filiação de um dos convidados a um grupo estrangeiro considerado terrorista pelos Estados Unidos, e à inabilidade da SFSU de contestar a informação, determinamos que o encontro viola os Termos de Serviço da plataforma, e advertimos a universidade de que não poderá usar o Zoom para este evento, em particular”, prosseguiu.
O jornal israelense The Jerusalem Post reportou que o cancelamento do seminário pelo Zoom ocorreu em meio a forte pressão de grupos de lobby sionista, incluindo o chamado Lawfare Project, think tank litigioso com base em Nova Iorque.
Naturally the first case of Zoom blatantly censoring content at a university was done to silence Palestinians on behalf of Israel. Will all the “free speech” and “cancel culture” warriors speak up? https://t.co/yiNeaDfcJI
— Ali Abunimah (@AliAbunimah) September 23, 2020
‘Naturalmente, o primeiro caso de censura flagrante do Zoom contra uma universidade deu-se para silenciar palestinos em nome de Israel’, denunciou Ali Abunimah, cofundador da rede Electronic Intifada
Khaled é membro da Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP) e conhecida pelo sequestro do voo 219 da companhia aérea El Al, em 6 de setembro de 1970.
A participação de Khaled estava prevista para ontem (23), no evento realizado pelo programa de estudos da Diáspora e Etnicidades Árabes e Islâmicas (AMED) da Universidade do Estado de San Francisco.
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A conferência foi anunciada sob o título: “Who’s Narratives? Gender, Justice and Resistance: a conversation with Leila Khaled” – em tradução livre, “Narrativas de quem? Gênero, Justiça e Resistência: uma conversa com Leila Khaled”.
Lynn Mahoney, presidente da Universidade do Estado de San Francisco, afirmou em carta aberta, intitulada “Academic Freedom Debate Continues” – “A liberdade do debate acadêmico continua” –, que a universidade discorda da decisão do Zoom, mas reconhece seu direito como empresa privada de aplicar suas próprias políticas.
“Trabalhamos duro para impedir este resultado e nos engajamos ativamente com o Zoom”, declarou Mahoney. “Com base nas informações que reunimos até então, a Universidade não crê que este painel de debate viola a lei ou os termos de serviço do Zoom”.
A decisão foi bem recebida pelo Ministro de Assuntos Estratégicos de Israel Orit Farkash Hacohen, que alegar, no Twitter: “Feliz em ver o Zoom impedir a terrorista Leila Khaled de abusar de sua plataforma para espalhar intolerância e apelos por destruição do estado judaico, hoje, em evento da SFSU. Empresas de tecnologia precisam manter políticas e proteger a segurança de todos os seus usuários contra discursos de ódio”.
O Partido Mundial dos Trabalhadores (WWP) condenou a censura do evento e denunciou que sua própria página do Facebook foi ameaçada de bloqueio pela rede por apoiar a conferência. A organização internacional reiterou seu apoio aos organizadores do evento para defender o acesso continuado a “tais importantes espaços digitais de mobilização”.
GUPS statement in response to the Zoom cancellation of the “Whose’s Narratives? Gender, Justice & Resistance” open classroom.
Follow us and @AmedStudies for updates. Thank you. pic.twitter.com/rKNWnZNhzD
— GUPS SFSU (@GUPS_SFSU) September 23, 2020
Sindicato Geral de Estudantes Palestinos da SFSU denuncia censura do Zoom
Após o cancelamento do seminário pela plataforma digital, o programa de estudos AMED compartilhou uma nota sobre como acompanhar seus eventos, assim como conferências e atividades realizadas pelo Sindicato Geral de Estudantes Palestinos (GUPS). Uma nota do sindicato estudantil repudiou a censura do Zoom.
Segundo a Rede Samidoun de Solidariedade aos Prisioneiros Palestinos, registro em vídeo do evento, conduzido independente da plataforma e da universidade, será distribuído em breve.
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