Na sexta-feira (25), o Primeiro-Ministro da Etiópia Abiy Ahmed afirmou à Organização das Nações Unidos que seu país não tem “nenhuma intenção” de lesar Egito e Sudão com a enorme represa hidrelétrica instalada na bacia do Rio Nilo Azul.
O projeto da chamada Grande Represa do Renascimento causou uma disputa amarga sobre as águas entre os três países.
As informações são da agência Reuters.
Etiópia, Egito e Sudão não conseguiram chegar a um acordo sobre a operação da barragem, antes das autoridades etíopes iniciarem o preenchimento do reservatório, em julho último. Contudo, os três países tentaram retornar à negociação mediada pela União Africana.
“Quero deixar absolutamente claro que não temos nenhuma intenção de prejudicá-los”, afirmou Abiy à Assembleia Geral da ONU, em vídeo pré-gravado, devido à pandemia de covid-19.
“Estamos resolutos em nosso compromisso de tratar das preocupações dos países rio abaixo e chegar a um resultado mutuamente benéfico, no contexto do processo em curso mediado pela União Africana”, prosseguiu o premiê e vencedor do Prêmio Nobel da Paz.
As negociações giram em torno de um impasse sobre exigências do Egito e Sudão de que qualquer acordo seja formalizado legalmente, contendo mecanismos para solucionar disputas futuras e gerenciar a represa durante períodos de seca.
O Egito alega depender do Nilo para mais de 90% dos seus escassos recursos hídricos e teme que a represa terá um impacto devastador sobre sua economia.
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Abiy argumentou às Nações Unidas que o projeto contribui efetivamente para a preservação dos recursos naturais, em particular da água, que “de modo contrário, seria perdida à evaporação nos países rio abaixo”.
“O que estamos fazendo, fundamentalmente, é suprir nossa demanda por eletricidade com uma das fontes mais limpas de energia. Não podemos permitir que mais de 65 milhões de pessoas, dentre nosso povo, permaneçam no escuro”, concluiu Abiy.
O Presidente do Egito Abdel Fattah el-Sisi expressou receios sobre o projeto ao falar à ONU, na quinta-feira (24).
“O Rio Nilo não deve tornar-se monopólio de um único estado. Para o Egito, a água do Nilo é uma questão existencial. No entanto, isso não significa que queremos prejudicar os direitos de nossos irmãos e irmãs, com quem compartilhamos a bacia do Nilo”, declarou Sisi.
“Não obstante, é inaceitável que as negociações continuem para sempre, em tentativa de impor realidades em campo”, destacou o general egípcio.
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