Cada vez mais, a elite financeira saudita busca estabelecer planos para fugir do reino, ao comprar passaportes estrangeiros, por medo de forte repressão política por parte do príncipe herdeiro e governante de fato Mohammed Bin Salman.
Desde que chegou ao poder, em 2017, o príncipe saudita intensificou prisões e assassinatos sumários de dissidentes e figuras de destaque na Arábia Saudita.
Trata-se da tendência entre familiares dos autocratas árabes e oficiais do regime, mesmo antes de Bin Salman, desde a conjuntura da Primavera Árabe, quando a monarquia passou a temer o descontentamento social, eventual deposição e congelamento de recursos. Sauditas abastados compram passaportes para manter as portas abertas, caso a situação desande.
O maior receio, porém, está na figura volátil e imprevisível do príncipe herdeiro de 35 anos, conhecido pela sigla MBS. Bin Salman é protagonista de grande parte do caos e instabilidade no Oriente Médio, ao lançar uma guerra desastrosa sobre o Iêmen, impor bloqueio sobre o Catar e executar repressão sem precedentes em âmbito doméstico.
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Embora críticos e dissidentes sejam o alvo favorito do príncipe, a elite saudita teme um novo “expurgo anticorrupção”. Conforme estimativas, 381 proeminentes empresários sauditas, além de nobres e oficiais, foram detidos pela onda repressiva de Bin Salman, em 2017.
“Tenho clientes que escaparam do Ritz-Carlton pois foram prudentes o bastante para garantir uma segunda cidadania com antecedência”, relatou David Lesperance, advogado canadense que defendeu dezenas de famílias do Golfo, desde o início da década de 1990, segundo a rede Al-Monitor. “Assim que me contrata, admite para si que está em perigo.”
Analistas do Golfo sugeriram que há um temor exponencial de que estado rico em petróleo poderá em breve confiscar recursos e bens de pessoas consideradas “desleais” ao regime. A compra de passaportes estrangeiros representa, portanto, uma rota de fuga.
Os destinos preferenciais são Chipre, Irlanda, Turquia, Reino Unidos, Estados Unidos, Canadá e Caribe. Em 2019, segundo relatos, o Chipre concedeu cidadania a um familiar de um cidadão saudita detido no incidente do Ritz-Carlton, além de um membro da família Bin Laden.
Alguns sauditas mais abastados se anteciparam, ao transferir recursos para fora do país e da região, logo após a onda de prisão no hotel Ritz-Carlton, em Riad, em 2017.
Em 2019, autoridades sauditas lançaram um novo “expurgo” contra príncipes e empresários do país. Documentos públicos revelaram que a monarquia efetivamente congelou seus recursos.
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