O popular denunciante egípcio Mohamed Ali está convocando um segundo “Dia de Fúria”, a fim de continuar os protestos que ocorrem no país há quase duas semanas.
Ali convocou a população a unir-se contra o Presidente Abdel Fattah el-Sisi, no primeiro aniversário dos protestos de 20 de setembro de 2019, quando os egípcios tomaram as ruas contra a grave inflação e demolições residenciais sistemáticas, conduzidas pelo governo.
Até então, as manifestações deste ano concentraram-se em áreas rurais, em particular, na região do Alto Egito, longe da pesada presença policial e militar nas principais cidades.
Em vídeo postado no Facebook, Ali fez um apelo aos egípcios a tomarem a Praça Tahrir, no centro do Cairo, nesta sexta-feira (2), a fim de marcar um “Dia da Vitória”.
A Praça Tahrir tornou-se célebre como local de origem dos levantes de 2011, entre 25 de janeiro e 11 de fevereiro, que depuseram o longevo ditador Hosni Mubarak. Trata-se, portanto, de um símbolo do impacto popular sobre o governo.
Usuários das redes sociais compartilharam mensagens com a hashtag árabe #SegundoDiaDeFúria, em chamado para que os protestos continuem, contra a severa deterioração das condições de vida e invasões policiais e militares contra residências civis.
LEIA: Polícia do Egito mata cidadão de Luxor e abre fogo contra seu funeral
Na quarta-feira (30), a Polícia do Egito executou Awais Al-Rawi, ao invadir sua casa em Luxor, após o cidadão egípcio objetar a agressão policial contra seu pai idoso e solicitar um mandado para que as forças de segurança conduzissem busca no local.
Um vídeo, compartilhado com a hashtag árabe #SextaFeiraSairemosAosMilhões, registrou o momento em que policiais atiraram contra uma multidão no velório de Awais.
Indignação generalizada sobre sua morte e sobre a brutal resposta policial, que incluiu gás lacrimogêneo, balas de borracha e munição real, incitou ainda mais as manifestações.
Na última sexta-feira (25), “Dia de Fúria”, o jovem Sami Wagdy Bashir, de 25 anos, foi morto pela polícia na aldeia de Al-Blida, província de Gizé, ao ser baleado com munição real.
Apoiadores do regime tentam convocar uma manifestação em resposta aos protestos, nas principais praças das grandes cidades, a fim de demonstrar apoio ao general e presidente.
A rede Al-Araby Al-Jadeed reportou que a Agência de Segurança Nacional do Ministério do Interior enviou cartas ao gabinete de governo, para que ministros do estado utilizem o aparato público e orientem funcionários a pegar ônibus em frente aos seus escritórios, com destino a manifestações pró-regime.
Os servidores públicos foram ameaçados de demissão e prisão, sob pretexto de “pertencer a grupo clandestino”, caso não participem dos atos a favor de Sisi.
LEIA: Os protestos populares no Egito contra Sisi romperam a barreira do medo