Ahmed Bassam Zaki, de 22 anos, ex-estudante da Universidade Americana do Cairo, compareceu à uma corte egípcia neste sábado (10), acusado de chantagem e conduta indecente contra ao menos três mulheres, em caso bastante monitorado pelas redes sociais, que despertou um raro debate público sobre crimes sexuais no Egito.
Zaki participou de uma audiência a portas fechadas; seu julgamento foi marcado para 7 de novembro, reportou o advogado de defesa Ahmed Ragheb à agência Reuters.
Em setembro, a promotoria pública encaminhou Zaki ao tribunal penal, sob acusações de “abuso sexual e ameaça contra três meninas menores de 18 anos, além de uma quarta vítima em incidente relativo a honra”.
Zaki, proveniente de uma família rica, pode ser condenado à morte ou prisão perpétua, caso o promotor apresente evidências rigorosas dos estupros em série.
O caso atraiu grande atenção da mídia, figuras religiosas e movimentos de mulheres no Egito, onde ativistas denunciam a frequente impunidade contra crimes de abuso e assédio sexual.
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Uma pesquisa de 2017, promovida pela Fundação Thomson Reuters, revelou que o Cairo representa a megacidade mais perigosa do mundo para mulheres. Em 2013, uma pesquisa da ONU reportou ainda que 99% das mulheres entrevistadas no Egito já sofreram assédio sexual.
Acusações contra Zaki foram postadas nos anos anteriores em uma conta privada do Facebook, administrada por estudantes da Universidade Americana do Cairo, mas autoridades demoraram até recentemente para investigar, somente após as denúncias chegarem a uma conta do Instagram chamada @assaultpolice.
Após a prisão de Zaki, centenas de mulheres passaram a denunciar casos de assédio e abuso sexual nas redes sociais, despertando uma onda egípcia do movimento Me Too, ao expor inúmeros homens e mesmo revelar um caso grave de estupro em um hotel do Cairo, em 2014.
Em agosto, a promotoria pública prendeu dois suspeitos neste caso, mas anunciou que sete outros suspeitos de alto perfil fugiram do país.
Em resposta ao debate crescente sobre a segurança das mulheres no Egito, o parlamento aprovou uma lei, também em agosto, concedendo às mulheres direito automático ao anonimato, a fim de encorajá-las a denunciar crimes sexuais.
“O caso de Zaki foi chocante, pois trouxe ao debate uma tradição profundamente enraizada de culpar as vítimas, e não os agressores, para justificar suas ações”, declarou a advogada Reda Eldanbouki, diretora-executiva do Centro de Mulheres para Orientação e Consciência Legal.