O bombardeio contra civis e infraestrutura civil na província de Idlib, considerada último posto da oposição na Síria, executado pela Rússia e pelo regime sírio do Presidente Bashar al-Assad, deve representar flagrante crime de guerra, reiterou a organização Human Rights Watch (HRW) em relatório divulgado hoje (15).
No documento intitulado “Targeting Life in Idlib” (“Ataques a vidas em Idlib”), o grupo humanitário internacional apresentou sua investigação sobre as ofensivas por terra e ar conduzidas por tropas russas e sírias sobre Idlib, entre abril de 2019 e março de 2020.
Kenneth Roth, chefe global do HRW, falou à Reuters para denunciar a ofensiva conjunta contra hospitais, escolas, mercados e áreas residenciais. Roth condenou os ataques por serem executados “não apenas inadvertidamente, não enquanto tentavam atingir os chamados terroristas, mas sobretudo deliberadamente”.
Tais ataques “ilegais”, prosseguiu, pretendem “expulsar civis e tornar suas vidas insuportáveis, na esperança de facilitar a retomada do território por tropas russas e sírias.”
A campanha de bombardeios de quase um ano de duração resultou em centenas de civis mortos e deslocou 1.5 milhão de pessoas.
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Em março deste ano, o regime de Assad executou 34 soldados turcos na região, o que levou a Turquia a retaliar severamente com drones de guerra contra forças do regime sírio.
Como resultado, a ofensiva sobre Idlib teve de recuar e um acordo de cessar-fogo foi assinado entre Rússia e Turquia, oficialmente ainda em vigor, apesar da continuação dos combates entre grupos de oposição e aliados de Assad.
O relatório do HRW também identificou dez figuras de alto escalão do “comando responsável” da Síria e da Rússia, incluindo Assad e sua contraparte russa, Vladimir Putin.
“Apenas pelo seguimento [dos inquéritos] e ao garantir que tais pessoas que supervisionaram tais crimes de guerra não saiam impunes, saberemos que há consequências ao uso deliberado da estratégia de crimes de guerra”, declarou Roth.
Apesar de condenações prévias por grupos de direitos humanos, referentes a crimes de guerra e baixas civis, Putin e Assad negam reiteradamente todas as acusações. Para eles, a ofensiva sobre a população civil de Idlib continua a tratar-se de guerra contra “terroristas”.
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