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O mundo está mudando: China lança campanha por status de superpotência

Presidente da China Xi Jinping e Presidente dos Estados Unidos Donald Trump [Iori Sagisawa, Mandel Ngan/AFP/Getty Images]
Presidente da China Xi Jinping e Presidente dos Estados Unidos Donald Trump [Iori Sagisawa, Mandel Ngan/AFP/Getty Images]

A noção datada de que a China deseja apenas “fazer negócios” deve ser completamente apagada de nossa compreensão sobre uma nova iminência do panorama político das potências globais.

Resumidamente, Pequim percebeu há muito tempo que, para manter intacto seu crescimento econômico, deve desenvolver ferramentas necessárias para proteger a si mesmo, seus aliados e seus interesses mútuos.

A necessidade de uma China forte não é uma ideia nova, desenvolvida hoje pelo atual presidente chinês Xi Jinping. O projeto retorna há décadas, espalhando-se por diversos movimentos nacionalistas e, em último caso, ao Partido Comunista da China. O que distingue Xi Jinping do restante é que, graças à influência global sem precedentes adquirida por Pequim durante seu mandato, com início em 2013, a China agora tem pouca ou nenhuma alternativa senão equiparar seu “milagre econômico” a um “milagre militar”.

O Presidente dos Estados Unidos Donald Trump fez do déficit comercial entre seu país e China uma pedra angular de sua agenda de política externa, mesmo antes de chegar ao poder. Apesar disso, é de fato o déficit militar que mais preocupa a China nos dias de hoje. Enquanto a mídia global concentra-se na intervenção de Pequim sobre o Mar da China Meridional – frequentemente representada como “provocação” –, pouco se fala da enorme presença militar americana ao redor da China.

Dezenas de milhares de tropas dos Estados Unidos estão posicionadas no Pacífico Ocidental e outras regiões, criando efetivamente um cerco com o objetivo de isolar qualquer possibilidade de expansão estratégica chinesa. Diversas bases militares americanas abarrotam o mapa Ásia-Pacífico, a maioria no Japão, Coreia do Sul, Filipinas, Singapura, Guam e Austrália.

Em resposta às manobras militares chinesas no Mar da China Meridional, os Estados Unidos esboçaram a Estratégia de Defesa Nacional de 2018, que incita a possibilidade de confrontos militares entre Washington e aliados asiáticos, por um lado, e Pequim, por outro. Logo depois, ocorreu uma nova onda de expansão militar americana. Em 8 de setembro, o Wall Street Journal, citando fontes oficiais, reportou que a República de Palau “pediu ao Pentágono que construísse portos, bases e campos aéreos na nação insular”.

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É óbvio que o Pentágono jamais sustentaria decisão tão importante apenas sobre os desejos da pequena República de Palau. O imenso valor estratégico do país – cujo território espalha-se por centenas de ilhas no Mar das Filipinas, com laços próximos a Taiwan, arqui-inimigo chinês e aliado americano – torna Palau uma escolha perfeita para novas bases militares sob controle dos Estados Unidos.

Não é novidade. A ascensão da China e suas intenções claras de expandir influência militar no Pacífico, preocupam os Estados Unidos há anos. O projeto “Pivô à Ásia”, da gestão de Barack Obama, com origem em 2012, representou a gênese da nova crença americana referente aos impendentes desafios na região. A Estratégia de Defesa Nacional, de dois anos atrás, retratou uma confirmação ainda mais contundente de que o foco da política externa dos Estados Unidos de fato mudou do Oriente Médio para o eixo Ásia-Pacífico.

A linguagem conciliadora que tornou-se característica da política externa chinesa ao longo das décadas de 1980 e 1990 agora é suplantada por uma retórica distinta, capaz de conter determinação política e ambições militares sem precedentes. Em seu discurso histórico ao Congresso do Partido Comunista, em outubro de 2017, Xi Jinping declarou a aurora de uma “nova era”, onde desenvolvimento e força devem estar em sincronia.

“A nação chinesa … ergueu-se, tornou-se rica e forte! Será uma era na qual a China estará cada vez mais perto do palco central, a fim de conceder maiores contribuições à humanidade”, declarou o presidente chinês e líder do partido.

Desde então, Xi Jinping buscou incansavelmente abordar o equilíbrio entre força, coragem e vitória, por um lado, e progresso, inovação e riqueza, por outro. Para que o “sonho chinês’ se realize, “teremos de ir além do ressoar dos tambores e gongos, para chegar lá!”

A jornada chinesa por seu cobiçado “palco central” já foi lançada anteriormente. No âmbito da economia, a Iniciativa do Cinturão e Rota está a todo vapor. Em 2013, Xi Jinping anunciou o gigantesco plano, com esperanças de superar todos os canais tradicionais de comércio, em vigor há décadas e décadas. Quando concluída, a rede de infraestrutura, alicerçada no projeto chinês, estabelecerá conexão efetiva por toda a Ásia, além de regiões do Oriente Médio e África. Caso bem-sucedida, o futuro da China poderá resultar, mais uma vez, no bastião do comércio global, da inovação tecnológica e, evidente, do poder político.

Em contraste, os Estados Unidos solidificaram sua hegemonia mundial com base em sua força militar. Por essa razão, a contra-estratégia americana mais outra vez concentra-se intensivamente no expansionismo militar. Em 6 de outubro, o Secretário de Defesa dos Estados Unidos Mark Esper anunciou que a marinha de seu país requer mais de 500 novas embarcações para reagir à China. Deste número, 355 navios de guerra convencionais são necessários até 2035. A frota futura foi intitulada como “Força de Batalha 2045”.

Particularmente intrigante no anúncio recente de Esper é a alegação de que, até 2045, “Pequim deseja conquistar paridade com a Marinha dos Estados Unidos, senão superar nossas capacidades em certas áreas e compensar nossa superioridade em diversas outras”. De fato, Pequim já o fez. A China representa hoje a maior marinha do mundo e, segundo o próprio Pentágono, “é a maior nação produtora de navios em todo o mundo, por tonelagem”.

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Pelos cálculos chineses, Pequim não precisa de 25 anos para mudar completamente as regras do jogo. Em 15 de outubro, Xi Jinping declarou ao Corpo de Fuzileiros Navais do Exército de Libertação Popular da China que concentrassem sua energia na “preparação para guerra”. Muitas interpretações já foram feitas sobre esta declaração, algumas relacionando o alerta aos Estados Unidos, outras a Taiwan, diversos conflitos no Mar da China Meridional ou até mesmo Índia. Independente, a linguagem de Xi Jinping indica que Pequim não quer mais limitar-se a “fazer negócios”, mas está pronto para agir em muitos outros âmbitos, a fim de proteger seus interesses, mesmo que decorra em uma guerra aberta.

A política internacional da China sob Xi Jinping parece representar um país absolutamente diferente. Pequim desfruta agora de riqueza suficiente e influência estratégia econômica – logo, poder político – para começar um processo de manobras táticas, não apenas no eixo Ásia-Pacífico, mas também no Oriente Médio e África.

Outro ponto central na estratégia de Xi Jinping é imitar certo modelo americano, ao rotular a China como potência monumental, defensora da lei internacional e ponto de resistência a crises globais. O isolacionismo cada vez maior dos Estados Unidos e o fracasso de liderança no contexto de pandemia de covid-19 concederam a Xi Jinping a oportunidade perfeita para inaugurar sua nova China.

O mundo está mudando diante de nossos olhos. Nos anos porvir, provavelmente falaremos mais outra vez de um mundo bipolar – ou até mesmo tripolar –, não mais formulado por Washington e seus aliados, em benefício próprio. De todo modo, a China caminha bem para reivindicar seu novo status.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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