O volume de comércio exterior entre países islâmicos e França, acusada recentemente de insistir em uma postura islamofóbica, superou US$100 bilhões anualmente.
Segundo estatísticas e dados de comércio internacional, o mundo islâmico possui um peso significativo na economia francesa.
Em 2019, o volume de exportações francesas em nível global chegou a US$555 bilhões, comparados a US$638 bilhões em importação, déficit de US$88 bilhões.
Recentemente, apelos populares por boicote a produtos franceses intensificaram-se em países árabes e islâmicos, após a republicação de charges consideradas ofensivas ao Profeta Muhammad, expostas até mesmo na fachada de edifícios na França, que coincidiu com uma campanha de assédio contra instituições islâmicas no país europeu.
Entre os países marcados pela campanha de boicote estão Kuwait, Turquia, Jordânia, Palestina, Arábia Saudita, Egito e Iraque, entre outros.
Maquinaria e indústria aeronáutica
Exportações em maquinaria chegaram a 12% do valor total das exportações francesas. O setor aeronáutico atingiu 9.6% das exportações do país.
Outros setores representaram os seguintes valores em termos de exportação: 9.5% em transporte, 7.8% em equipamentos de maquinaria, 6.4% no setor farmacêutico, 3.8% na indústria de plástico, 3.6% em perfumes e cosméticos e 3.5% em bebidas alcoólicas.
A importação francesa de maquinaria e computadores contabilizou 13.1% das importações totais do país. O setor de transporte alcançou 11.5%, seguindo por equipamentos (8.9%) e medicamentos (3.9%).
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Comércio com países islâmicos
Exportações francesas a países islâmicos chegaram, em 2019, ao índice de US$45.8 bilhões. Importações destes países representaram US$58 bilhões das compras francesas. Portanto, déficit de US$12.2 bilhões.
A maioria das importações de produtos franceses aos estados islâmicos, durante o período, consistiram em máquinas, turbinas de gás, produtos aeronáuticos, partes automotivas, carros, tratores, ferro e aço, equipamentos elétricos e eletrônicos e remédios.
Por outro lado, autoridades francesas compraram de tais países produtos como: petróleo cru, gás natural, óleo mineral, carros, partes automotivas, receptores de televisão, aquecedores elétricos, cabos, roupas, vegetais, frutas e nozes.
Durante o período supracitado, a Turquia representou o maior importador de bens franceses, entre os países de maioria islâmica.
O valor de exportações francesas à Turquia chegou a US$6.6 bilhões, entre produtos como: maquinaria, carros, partes automotivas, tratores, produtos de ferro e aço, equipamentos elétricos e eletrônicos, remédios e produtos da indústria militar.
Em 2019, o valor de exportações francesas à Argélia foi estimado em US$5.5 bilhões, incluindo maquinaria, canos, turbinas de gás, carros, eletrodomésticos e grãos (como trigo).
O Marrocos importou da França produtos como motores, bombas hidráulicas, maquinaria, turbinas de gás, circuitos elétricos, partes automotivas, produtos aeronáuticos, trigo e cevada, no valor de US$5.3 bilhões.
O Catar também obteve os seguintes bens franceses: produtos aeronáuticos, equipamentos elétricos e eletrônicos, ferro e aço, cosméticos e pedras preciosas. Tais importações chegaram a US$4.3 bilhões.
A França exportou ainda equipamentos elétricos, óleos minerais e plástico à Tunísia, no valor de US$3.74 bilhões, no mesmo período.
Exportações francesas a outros países incluem: Malásia (US$1.68 bilhões), Senegal (US$1.2 bilhões), Nigéria (US$657 milhões), Líbano (US$627 milhões), Kuwait (US$589 milhões), Omã (US$474 milhões) e Cazaquistão (US$474 milhões).
Em 2019, a França também exportou produtos ao Bahrein (US$471 milhões), Iraque (US$464 milhões), Paquistão (US$443 milhões), Irã (US$420 milhões), Mali (US$374 milhões), Bangladesh (US$295 milhões) e Jordânia (US$237 milhões).
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A Líbia comprou produtos franceses no valor de US$210 milhões. Outros países: Azerbaijão (US$160 milhões), Uzbequistão (US$150 milhões), Turcomenistão (US$112 milhões) e Bósnia-Herzegovina (US$98 milhões).
O Chade importou US$97 milhões em bens da França, seguido por Sudão (US$86 milhões), Síria (US$52 milhões), Quirguistão (US$32 milhões) e Afeganistão (US$26 milhões).
Importações francesas
Importações francesas da Turquia durante 2019 representaram em torno de US$9.8 bilhões na balança comercial do país europeu, em produtos como: bens, peças e motores automotivos, transporte de massa, tratores, turbinas de gás, refrigeradores e bombas hidráulicas.
A França importou petróleo cru e óleos minerais da Arábia Saudita, no valor de US$7.5 bilhões. Adquiriu ainda carros, cabos, produtos de conexão elétrica, vegetais, frutas e roupas do Marrocos, no valor de US$6.3 bilhões.
Importações francesas de outros países incluem: Nigéria (US$4.4 bilhões), Cazaquistão (US$3.55 bilhões), Bangladesh (US$3.3 bilhões), Malásia (US$2.6 bilhões), Indonésia (US$2.1 bilhões), Emirados Árabes Unidos (US$1.72 bilhões), Líbia (US$1.6 bilhões), Paquistão e Iraque (US$1 bilhão, cada).
O Egito exportou US$815 milhões à França, seguido por: Catar (US$750 milhões), Azerbaijão (US$713 milhões), Bahrein (US$285 milhões), Kuwait (US$240 milhões), Bósnia-Herzegovina (US$174 milhões), Omã (US$117 milhões), Líbano (US$69 milhões), Sudão (US$53 milhões), Irã (US$52 milhões) e Jordânia (US$29 milhões).
Causa da crise
Declarações do Presidente da França Emmanuel Macron foram recebidas como agressão por muitos muçulmanos e instituições islâmicas, ao coincidir com uma série de incidentes islamofóbicos em diversas cidades francesas.
Na última semana, charges consideradas ofensivas ao Profeta Muhammad, antes publicadas pela revista satírica Charlie Hebdo, foram exibidas nas fachadas de instituições públicas em Montbray e Toulouse, em solidariedade a um professor decapitado recentemente, em um subúrbio parisiense.
Macron então reiterou que não cederia às pressões para não publicar as charges consideradas ofensivas. Forças de segurança intensificaram invasões e campanhas repressivas contra instituições islâmicas e organizações da sociedade civil, na França.
Em 19 de outubro, o Ministro do Interior Gerald Darmanin anunciou o fechamento de uma mesquita e diversas instituições e associações da sociedade civil, incluindo o Coletivo contra a Islamofobia na França.
Muitos países islâmicos vivenciam agora uma forte campanha para boicotar produtos franceses, em resposta aos eventos em solo francês.