Jilmar Tatto já foi deputado federal e secretário Municipal da cidade de São Paulo e hoje pleiteia o cargo de prefeito pela sigla partidária ao qual faz parte há quase 40 anos, o Partido dos Trabalhadores (PT).
Em meio aos retrocessos nas políticas internacionais impostos pelo governo de Jair Bolsonaro, Jilmar Tatto afirma que por meio da política municipal é possível, através da Secretária Internacional, levar apoio e solidariedade ao povo palestino.
Em entrevista ao MEMO, Tatto revela seus projetos no pós pandemia e seu apoio à Palestina.
Qual é a maior dificuldade em fazer campanha em plena pandemia?
É o fato de não poder fazer aglomerações de pessoas em comícios, por exemplo. O fato de ter que andar de máscara e não poder abraçar e cumprimentar as pessoas. O calor humano, que é muito característica do brasileiro, das pessoas se tocarem, se beijarem, de abraçar, apertar a mão. Isso é o maior desafio que sinto, como também o suporte às pessoas. Temos muitas famílias que perderam seus entes queridos, parentes e amigos. Vivemos um momento triste, em que a gente tem que, além de se solidarizar e se cuidar, dar o exemplo e ao mesmo tempo levar esperança. Cobrar dos governantes que tomem medidas mais concretas para que menos pessoas morram e menos pessoas sejam infectadas. Temos que passar uma esperança de que é possível mudar a vida delas neste momento de aumento da desigualdade social. Tento passar uma esperança no sentindo de falar: ” Olha, nós vamos amenizar esse sofrimento, vamos criar frentes de trabalhos, vamos enfrentar essas desigualdades”.
Qual maior desafio que o próximo prefeito de São Paulo terá no pós pandemia?
A criação de emprego e cuidar das pessoas que estão passando fome. Temos uma proposta da renda básica de cidadania, que é garantir o mínimo de recursos para que as pessoas possam sobreviver, ao mesmo tempo, ampliar a rede de saúde para que ninguém fique sem fazer exames, consultas ou cirurgias seletivas. Colocar em funcionamento, em 24 horas, a rede “Hora Certa”, para fazer a fila andar e para isso precisamos contratar mais servidores e mais médicos. Na educação, o desafio é a questão de ter um plano, onde a criança é tratada conforme seu conhecimento. Teremos planos pedagógicos para cada grupo social ter aulas de reforços. São várias vias para criar frente de trabalho, para que as pessoas possam ter efetivamente uma renda. Os efeitos da pandemia vão continuar, por isso o Estado é muito importante para essas pessoa
O Brasil sempre apoiou a causa palestina, fato interrompido pelo governo Bolsonaro, qual sua opinião sobre isso?
Um desastre! O Brasil sempre foi reconhecido internacionalmente como um país que procura a paz e o entendimento. O próprio presidente Lula quando foi à Israel fez questão de também visitar a Palestina. Na ONU e nos organismos internacionais, o Brasil sempre defendeu o Estado da Palestina. E isso, com o Bolsonaro acabou, ele simplesmente jogou por terra toda a nossa diplomacia, que é historicamente reconhecida e hoje não tem respeito nenhum. É uma vergonha, os próprios embaixadores estão bastante envergonhados com a posição do governo Bolsonaro.
Em meio a elogios ao governo Bolsonaro, Yossi Shelley (embaixador de Israel) e Eduardo Bolsonaro, em live divulgada em seu canal, criticaram os governos anteriores, especificamente Lula e Dilma Rousseff, pelo reconhecimento do Estado Palestino, qual sua opinião sobre isso?
Eu sou favorável ao Estado da Palestina, o PT sempre teve essa posição, pela autodeterminação dos povos e pela existência do Estado palestino. Tenho a mesma opinião do presidente Lula e do PT, que historicamente defende a criação do Estado da Palestina e a sua autodeterminação. Temos que ajudar a construir esse Estado e ajudar no ponto de vista de solidariedade que é fundamental, até porque o PT sempre teve essa postura.
Qual sua análise sobre o reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel?
Acredito que deveria ficar onde está, não mexer nisso e acho que é uma provocação ao mundo árabe e à ONU. Historicamente, os países da Europa nunca opinaram e nunca defenderam que a capital de Israel fosse Jerusalém. Do ponto de vista de Israel, isso não existe, quando houve a partilha do Estado, Israel deveria manter aquele território e não a expansão que foi feita de forma imperialista no pós criação do Estado de Israel. Cada povo tem que ter a sua autodeterminação e sua autonomia, mas tem que respeitar o território dos outros povos.
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Como a política municipal pode fortalecer a causa palestina?
A cidade de São Paulo possui 2 milhões de habitantes, é considerada uma das mais importante do Brasil e aqui, inclusive, por iniciativas do governo do PT, temos a Secretaria de Relações Internacionais e sempre apoiamos inciativas referente ao estado da Palestina, ou quando o povo palestino foi agredido, por vários momentos por Israel. Nós sempre procuramos, além da defesa pública, a ajudar e a entender a Palestina. Os palestinos na cidade de São Paulo, caso consigamos a prefeitura, terão um amigo prefeito, não tenham dúvida disso, teremos relação de alto nível, de respeito e de construção da paz entre os povos.
Se o senhor ganhar as eleições municipais, haverá uma tendência de geminação com municípios do Oriente Médio, como os do Líbano e Palestina.
Sim, isso já aconteceu nas gestões anteriores do PT. Faremos uma política de aproximação com os países árabes, através de cidades irmãs. Faremos convênios de cooperação na área cultural e educacional, pois é um povo que tem conhecimento milenar e temos também que nos apropriar desse conhecimento. De minha parte, estreitaremos ainda mais essa relação e conhecimento.
Existe uma campanha em andamento, chamada pela sociedade civil palestina, que é por Boicote, Desinvestimentos e Sanções (BDS) à Israel, qual sua opinião sobre isso?
É legítimo esse movimento, eles tem que se organizar, ter suas próprias ferramentas de lutas. É um movimento social que tem ser respeitado, o meu partido participa desses movimentos, tem a solidariedade e efetivamente respeita a autonomia desses movimentos. Vemos com muito respeito e estamos acompanhando a evolução disso para a podermos também, eventualmente ter uma ação mais afirmativa.
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