Enquanto o mundo mantinha-se ocupado com as eleições presidenciais nos Estados Unidos, faltava atenção aos acontecimentos contínuos na Faixa de Gaza sitiada e seus arredores. Nesta semana, o Ministério da Saúde em Gaza fez um apelo à Organização Mundial da Sáude (OMS) por ajuda imediata, para enviar kits de testagem para covid-19 ao território palestino, à medida que aumentam consistentemente os casos da doença, desde agosto, quando quatro pacientes foram diagnosticados fora dos centros de quarentena. Ontem (11), foram registrados 303 novos casos e um óbito.
Ao mesmo tempo, o Ministério da Saúde em Gaza anunciou que a unidade de terapia intensiva (UTI) do Hospital Al-Aqsa, que provém a maior parte dos serviços de saúde na área central de Gaza, está à beira do colapso, devido à falta crítica de equipamentos médicos e oxigênio. Grupos de direitos humanos em Gaza corroboraram as preocupações do ministério palestino, ao reiterar que as condições de saúde geral e serviços humanitários na faixa litorânea, sob severo cerco israelense há 14 anos, estão se deteriorando cada vez mais.
Paralelamente, o exército da ocupação israelense executa repetidamente suas breves invasões ao longo da zona oriental da Faixa de Gaza. Recentemente, abriram fogo contra pescadores e fazendeiros palestinos, uma e outra vez. Ao menos um pescador ficou ferido.
“A grande mídia e suas análises ponderam sobre o que se passa na mente dos políticos israelenses responsáveis por tomar decisões”, relata o especialista Talaat Al-Khatib, ao destacar que imprensa israelense reporta diversos exercícios militares no mar e terras próximas à Faixa de Gaza. Analistas sionistas, prossegue Al-Khatib, já advertiram sobre a iminência de um incidente de larga escala no “sul [de Israel]”, nesta sexta-feira (13), aniversário do assassinato de Bahaa Abul-Ata, líder da Jihad Islâmica, executado por forças israelenses.
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Após concluídos os exercícios militares de larga escala, há dez dias, considerados os maiores deste ano, Aviv Kohavi, chefe do Estado-Maior do Exército de Israel, declarou: “Tratam-se de exercícios especiais, que projetamos para aumentar nossa capacidade de ataque … Este é um exercício que traceja uma rota do nível do batalhão até o Estado-Maior, com toda a coordenação e cooperação entre a hierarquia e os diferentes setores militares”.
Além disso, a imprensa israelense manteve monitoramento de toda e cada ação das Brigadas Al-Qassam, incluindo o lançamento de mísseis ao mar e a organização de marchas militares. Quando foi descoberto um suposto túnel do Hamas debaixo da região leste de Gaza, a mídia de Israel e analistas de guerra produziram inúmeros artigos sobre o caso. Há alguns dias, a imprensa israelense comentou sobre o lançamento de um foguete ao mar, ao alegar que o Hamas continua a melhorar suas habilidades ofensivas.
“Israel planeja executar um ataque de larga escala contra a Síria ou o Irã antes do fim do mandato do Presidente dos Estados Unidos Donald Trump”, relatou-me Walid Al-Agha, especialista em assuntos israelenses. “Israel teme que Gaza se envolva em uma escalada contra Israel, em retaliação a tais ataques. Desta forma, drones israelenses sobrevoam Gaza 24 horas por dia, ao longo dos últimos dias”.
Al-Khatib afirmou ainda que a ocupação militar israelense espera que o braço armado da Jihad Islâmica lance uma onda de foguetes contra Israel, no primeiro aniversário do assassinato de Abul-Ata. “Caso aconteça, o exército israelense usaria este incidente como pretexto para uma ofensiva em Gaza”, argumenta Al-Khatib. Não obstante, destaca Al-Agha: “Caso ocorra, Israel não deverá atacar apenas alvos da Jihad Islâmica, como aconteceu durante a escalada que irrompeu da execução de Abul-Ata”.
De sua parte, o Hamas alegou prontidão para qualquer eventual cenário. “A resistência palestina existe devido à existência da ocupação israelense”, enfatizou Fawzi Barhoum, porta-voz do Hamas. “[A resistência] está unida e pronta para proteger o povo palestino de qualquer agressão israelense”.
Ao comentar sobre as intensivas simulações militares do Exército de Israel e as agressões recentes contra os palestinos de Gaza, declarou Barhoum: “A ocupação israelense não respeita qualquer acordo com ninguém, não somente os palestinos. Está sempre atacando os palestinos ou se preparando para executar ataques contra eles”.
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Não são apenas os palestinos de Gaza que passam por profundas dificuldades; suas contrapartes na Cisjordânia “também sofrem sob a brutal ocupação israelense, que restringe seu direito de ir e vir, oprime suas liberdades e viola seus direitos humanos”.
Em maio de 2019, a resistência palestina em Gaza chegou a um cessar-fogo com Israel que encerrou efetivamente a maior rodada de tensões entre ambos os lados desde a severa ofensiva israelense contra o território palestino em 2014. Ao menos 27 palestinos foram mortos por bombardeios israelenses contra Gaza, além de muitos feridos. Quatro israelenses foram mortos, segundo a imprensa local.
Segundo reportagem da Associated Press (AP), este cessar-fogo, mediado pela ONU, Egito e Catar, estipulou o envio de US$480 milhões em recursos do Catar a Cisjordânia e Gaza. O estado catariano destacou que US$300 milhões serão destinados a programas de saúde e educação da Autoridade Palestina, enquanto US$180 milhões serão realocados a “assistência humanitária urgente”, sob jurisdição de programas da ONU e fornecimento de energia elétrica. O cessar-fogo, porém, foi rompido diversas vezes, apesar dos esforços dos mediadores para salvá-lo, até então.
Concluiu Al-Agha: “Dado que a ocupação israelense não se compremeteu com suas obrigações referentes ao cessar-fogo, a resistência palestina em Gaza pode anunciar o fim do acordo sob qualquer violação de Israel e logo retomar suas ações contra a ocupação”.
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