Tradutores iraquianos que trabalharam com as forças armadas dos Estados Unidos temem que suas informações pessoais tenham sido vazadas a milícias ligadas ao Irã, deixando-os em situação vulnerável diante de eventuais ataques.
As informações são do jornal The Washington Post.
O Exército dos Estados Unidos, segundo a reportagem, concedeu informações pessoais, incluindo nomes verdadeiros, endereços e placas de carro, às forças de segurança do Iraque, a fim de facilitar a circulação dos tradutores pelo território iraquiano.
Contudo, grupos paramilitares ligados ao Irã “infiltraram-se em partes do aparato de segurança do Iraque”, de modo que possuem agora acesso a tais informações.
Dois tradutores iraquianos relataram ter visto combatentes paramilitares com uma lista de dados pessoais, em um posto de controle militar no país. Ambos acreditam que as informações têm origem de um centro de coordenação militar administrado por tropas iraquianas.
Um tradutor de Bagdá declarou ao The Washington Post: “Quando percebemos de onde vinham as informações, ficamos chocados. A lista contém tudo. Telefones, números de identidade, até mesmo nossos nomes reais.”
Prosseguiu: “Seria uma missão bastante fácil nos caçar e abater. Eles têm toda a informação de que precisam. O que acontece se essa lista vazar na internet?”
Não obstante, algumas informações já foram divulgadas online.
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Em junho, a agência local Sabreen News publicou uma lista de nomes e dados pessoas pertencentes a tradutores iraquianos, incluindo endereços pessoais e detalhes de seus veículos, como placa, modelo, ano e número de documentação.
O documento vazado, prosseguiu a reportagem do Post, possuía o logotipo do Departamento de Defesa e da coalizão militar dos Estados Unidos no Iraque. O jornal, porém, não pôde verificar independentemente a autenticidade da lista.
Receios sobre os tradutores, muitos dos quais dispensados de seu serviço como parte da retirada dos Estados Unidos no país árabe, aumentaram nos últimos meses. Muitos tradutores ficaram desempregados, sem renda e sem qualquer proteção.
Contudo, mesmo diante dos riscos, suas opções para imigrar aos Estados Unidos foram bastante reduzidas.
Ex-tradutores não podem mais solicitar visto especial concedido pelo Programa de Imigração, encerrado em 2014. A entrada de refugiados iraquianos nos Estados Unidos é limitada a apenas 4.000 imigrantes por ano.
Apesar do índice previsto de 4.000 refugiados anuais, apenas 161 iraquianos ligados aos Estados Unidos foram realojados em terras americanas, em 2019, segundo o Projeto Internacional de Assistência aos Refugiados.
Em 2020, o governo dos Estados Unidos concordou em acelerar a análise de centenas de pedidos feitos por tradutores iraquianos ligados às tropas americanas, após suspensão da infame proibição de viagem imposta pelo então presidente Donald Trump.
Entretanto, ainda não está claro se a promessa foi cumprida.