O Ministro de Relações Exteriores da Arábia Saudita, príncipe Faisal bin Farhan Al Saud, expressou confiança de que o presidente eleito dos Estados Unidos Joe Biden manterá políticas para fomentar a estabilidade regional e cooperação entre os países.
As informações são da agência Reuters
Riad tenta preparar-se para a mudança no governo americano, após a vitória eleitoral do candidato democrata, que declarou em campanha que reavaliará laços com o estado saudita, descrito como “pária”, em 2019.
“Estou confiante de que um governo Biden continuará com políticas no melhor dos interesses da estabilidade regional”, declarou o príncipe saudita à Reuters, em entrevista virtual, no contexto da cúpula do G20, sediada em Riad.
Prosseguiu: “Qualquer discussão que tenhamos com a administração futura deverá levar a uma forte cooperação.”
Mohammed bin Salman, príncipe herdeiro e governante de fato da Arábia Saudita, desfruta de boa relação com o atual presidente Donald Trump. A aliança concedeu certa blindagem a Riad diante das denúncias internacionais por graves abusos de direitos humanos, em particular, após o assassinato de Jamal Khashoggi, jornalista saudita radicado em Washington.
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Outro foco de críticas contundentes a Riad é sua severa intervenção militar na guerra no Iêmen. O estado saudita também é denunciado por tortura e estupro dentro de suas prisões, cometidos contra ativistas pelos direitos das mulheres.
Tais áreas deverão representar pontos de atrito entre Biden e Riad, embora o país árabe detenha grande parcela das importações de petróleo aos Estados Unidos e mantenha-se como comprador de armas em larga escala.
O príncipe Faisal, não obstante, enfatizou a história de 75 anos de “forte cooperação de defesa” entre os países e reiterou esperar que tais políticas continuem. Alegou ainda que seria “absolutamente apropriado” que Biden declarasse o movimento iemenita houthi, ligado ao Irã, como organização terrorista internacional.
“Sabemos que muitas de suas armas e boa parte de sua ideologia vêm do Irã. Portanto, representa certamente uma organização terrorista com apoio internacional”, afirmou Faisal.
Washington enxerga o grupo houthi como extensão da influência iraniana na região. A gestão Trump ameaçou reiteradamente criminalizar o movimento, como parte de sua campanha de “máxima pressão” contra o Irã.
Teerã, porém, nega qualquer apoio financeiro ou militar aos houthis.
Nos últimos anos, a Arábia Saudita pressionou bastante por políticas contra o Irã, adversário geopolítico no Oriente Médio.
A questão agora é como Biden poderá abordar o acúmulo de mísseis balísticos iranianos e o apoio indireto a grupos em conflito no Oriente Médio, diante de tentativas de restabelecer o pacto nuclear internacional, revogado unilateralmente por Trump, em 2018.
O príncipe Faisal também argumentou que seu país possuía previamente relações “boas e amigáveis” com a Turquia, que tornou-se opositora do regime saudita em diversos aspectos de política internacional, incluindo apoio a grupos políticos islâmicos e lados opostos em conflito.
O assassinato de Khashoggi, no consulado saudita em Istambul, agravou as tensões.
Por mais de um ano, comerciantes e empresários sauditas e turcos especulam que Riad tenta impor um boicote informal a importações da Turquia.
O ministro, contudo, alega não ter visto números que apoiem a tese.
Ao comentar sobre a disputa entre os países do Golfo e o Catar, o chanceler afirmou que Riad busca uma forma de encerrá-la.
Em 2017, Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Arábia Saudita e Egito impuseram um bloqueio econômico ao Catar, ao romper laços diplomáticos e rotas de transporte, sob acusações de apoio ao terrorismo internacional. O Catar nega as alegações.
Às vésperas da cúpula do G20, grupos de direitos humanos e famílias de prisioneiros políticos exortaram os países-membros a boicotarem o evento diante das graves denúncias de abusos cometidos pela Arábia Saudita.
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Questionado sobre a hipótese de conceder clemência às mulheres detidas, proposta inicialmente citada pelo embaixador saudita no Reino Unido e deste então negada, Faisal declarou que o perdão não está em questão, dado que as detentas ainda estão em julgamento.
As ativistas são acusadas de ferir interesses nacionais. Os processos permanecem, em grande parte, sob segredo de estado. Os poucos detalhes publicados indicam acusações relacionadas a contatos com jornalistas, diplomatas e grupos de direitos humanos internacionais.