Um incidente chocante, no qual uma mulher iraniana ateou fogo em si mesma, despertou indignação generalizada por todo o Irã, reportou a agência Anadolu.
O caso foi registrado na última quinta-feira (19), na cidade portuária de Bandar Abbas, na província de Hormozgan, sul do país, onde a cidadã de 35 anos tentou realizar autoimolação após sua casa ser demolida por autoridades locais.
De acordo com relatos próximos, a vítima vivia com seus dois filhos, junto de duas outras mulheres com suas respectivas crianças, em uma barraco localizado na região de Bist o Davam, na periferia da cidade.
A mulher, segundo as fontes, sofreu queimaduras substanciais e está em tratamento em um hospital da cidade costeira. Seus filhos e os outros ocupantes estão agora desabrigados.
Na sexta-feira (20), oficiais da província visitaram a vítima no hospital e reportaram ordens para abertura de um inquérito sobre todo o episódio, que viralizou nas redes sociais.
A cidade portuária de Bandar Abbas, situada estrategicamente na entrada do Golfo Persa, às margens do Estreito de Ormuz, foi vista durante muito tempo como potencial centro de comércio para toda a região.
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Contudo, foi reduzida a um conjunto de guetos ocupados por uma população empobrecida. Segundo estimativas oficiais, menos da metade da população na cidade – em torno de 240.000 pessoas – vivem em casas adequadas e devidamente autorizadas.
O incidente chocante retornou os holofotes à miséria que toma conta da província iraniana, sob condições cada vez mais difíceis de subsistência e evidente indiferença das autoridades locais sobre os problemas que afligem a população.
Oficiais da prefeitura de Bandar Abbas alegaram que um alerta foi dado aos ocupantes da residência para evacuarem o local, dado que a terra pertence ao governo, supostamente “situada sobre um canal de controle de inundações”.
Entretanto, os parentes da vítima relataram pedidos reiterados para que as autoridades municipais não executassem a demolição, ao argumentar que as famílias residiam no local “por necessidade, não por escolha”.
O incidente resultou em críticas contundentes às autoridades, por todo o Irã.
Samieh Rafiee, advogado em Teerã, capital do país, denunciou a ação e reivindicou “emendas às leis existentes”, a fim de impedir que tais injustiças aconteçam novamente no futuro.
Ali Reza Zakhani, advogado na cidade de Qom, descreveu o caso como “episódio amargo” e exemplo do “comportamento discriminatório” contra a população mais pobre do Irã.
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