Portuguese / English

Middle East Near You

Soldados israelenses em Gaza ostentam má conduta

Moda, cultura e identidade: As jóias que unem Egito e Alemanha

Anja Saleh, fundadora da TAVII [Muhammad Salah Abdulaziz]
Anja Saleh, fundadora da TAVII [Muhammad Salah Abdulaziz]

Em um mundo fortemente digitalizado, vibrante nas artes de aceitação cultural, surgiu com o tempo uma geração de mentes criativas que expressam francamente seu amor por suas origens como filhos da diáspora – conceito frequentemente aceito que abrange um grupo de pessoas que compartilham vínculos nacionais, mas que mudaram-se a outro país, como parte de processos migratórios. Ao encontrar inspiração através de diferentes mídias, este grupo de artistas mostra-se hoje capaz de utilizar suas respectivas plataformas como meio de conscientizar o público sobre sua cultura e buscar conhecimento sobre suas próprias raízes.

Entre tais mentes criativas, está Anja Saleh, fundadora e proprietária da marca TAVII.

Anja Saleh é designer, poeta e educadora, com formação em ciência política e sociologia. Nasceu e cresceu em uma pequena cidade no sul da Alemanha e viveu, por muitos anos, entre o país europeu e sua pátria ancestral, o Egito.

“Considero a mim mesma, bem, núbia-egípcia ou afro-alemã ou egípcio-alemã … A beleza disso, imagino, é que posso escolher o que bem entender, pois é tudo parte essencial e factual do que sou”, afirma Anja.

Em 2018, Anja decidiu abrir a TAVII. Segundo Anja, a ideia para o projeto surgiu das magníficas histórias egípcias, em um período no qual trabalhava em coleções inspiradas pelas “comunidades silenciosas no Egito”, de modo que representavam uma forma de “desafiar a percepção convencional sobre o que é considerado bom ou belo.”

Jóias da marca TAVII [Tatsiana Tribunalova]

Jóias da marca TAVII [Tatsiana Tribunalova]

A marca representa mais do que vemos na superfície. “TAVII provém do Egito Antigo e significa duas terras”, explica Anja. “Deriva-se do conceito de Sema Tawy, isto é, união de duas terras, originalmente referente ao Alto e Baixo Egito”. Antes da unificação do país, a população egípcia dividia-se em ambas as regiões – o Baixo Egito no norte do país, o Alto Egito no sul, separados por margens distintas do Rio Nilo.

Anel da marca TAVII, inspirado pela cultura egípcia

Anel da marca TAVII, inspirado pela cultura egípcia

“As duas terras refletem a experiência da diáspora, que conecta as biografias de indivíduos de ao menos dois lugares do mundo, ao mesmo tempo que os distancia de tais lugar, em certa medida”, declara Anja, ao abordar a riqueza de sua história e seu significado para ela. “Quanto mais nos afastamos do passado, mais ele se torna relevante para nós. Queremos recordar e celebrar rituais, tradições e saberes ancestrais”.

Anja acredita que este processo é justamente uma forma de “enriquecer nossas culturas” e “manifestar memórias de gerações passadas.”

“TAVII evoca para mim ambas as minhas terras natais, Egito e Alemanha”, prossegue a artista, ao destacar a “complexidade e beleza de pertencer a diversos lugares”.

LEIA: Egito abre múmia antiga selada há 2.500 anos

Para ela, o desejo de aprender sobre suas raízes e cultura cresce hoje em muitas comunidades espalhadas pelo mundo e aproxima as pessoas ao autoconhecimento e às histórias de seus pais, logo, capaz de “reconectá-las ao passado, para além da existência física”.

Além disso, seu compromisso com uma moda sustentável significa que Anja decidiu tomar uma rota pouco ortodoxa em comparação às tendências convencionais de sua indústria. “As ofertas por produção em massa e moda rápida, em geral, são incrivelmente lucrativas e parecem muito fáceis de manter. Porém, sei bem que as dificuldades que enfrento valerão a pena a longo prazo e sempre vou me opor à moda rápida”, enfatiza.

“Com esta abordagem em mente e a determinação de não cair na produção em massa e nas armadilhas da moda rápida, quero de fato mudar as coisas na indústria, a fim de produzir de forma tão sustentável quanto o processo me permitir. Comecei a pesquisar sobre os detalhes de minha própria história e sobre a história que quero contar para então garantir que cada passo é deliberado. Minhas convicções devem assim agregar energia ao trabalho”.

“Ao criar um negócio, busque ajuda e traga pessoas de confiança para participar do processo, não tenha medo de começar e ter confiança, mesmo em seus fracassos”, aconselha Anja. “Abraçar o processo não é mero discurso, é uma necessidade que tornar-se muito evidente ao longo do processo”.

A peça favorita de sua coleção? “Os Aros Nostal, inspirados pelos pequenos brincos de mesmo estilo que muitas crianças da diáspora usavam quando pequenas ou, digamos, tinham de usar. Uma coisa muito comum – porém, frequentemente em ouro – que podíamos facilmente ver nas fotos de crianças de outras pessoas, independente de seus países de origem”.

Aros Nostal, modelo de brincos da marca TAVII [Muhammad Salah Abdulaziz]

Aros Nostal, modelo de brincos da marca TAVII [Muhammad Salah Abdulaziz]

“As coisas que herdamos são parte de nós”, conclui Anja. “Do mais óbvio, como nossos traços, às coisas que mal sabemos sobre nós mesmos, como as vidas de nossos ancestrais. A riqueza de suas histórias construiu-se pela sabedoria e muita força, mas também por muita dor e trauma, que herdamos junto da beleza, das virtudes, do conhecimento. Assim, o que minhas raízes significam para mim é menos uma escolha do que uma dádiva. Define tudo o que sou. Da forma como vejo o mundo à forma como expresso meus medos, tudo remete aos fios interligados de minhas origens”.

Categorias
ÁfricaAlemanhaEgitoEntrevistasEuropa & Rússia
Show Comments
Palestina: quatro mil anos de história
Show Comments