Embora seja apenas uma das muitas injustiças de Israel, o caso de Mohammed El-Halabi é um exemplo particularmente notório dos crimes do estado da ocupação colonial. El-Halabi era um proeminente agente humanitário palestino, diretor da organização cristã Visão Mundial Internacional, fundada pelo governo da Austrália. Agora, perece pouco a pouco em uma cela israelense, há quatro anos, negado seu direito mais básico a um julgamento justo.
Segundo consta, El-Halabi é torturado pelo regime israelense, na tentativa de coagí-lo a aceitar um acordo judicial. Foi submetido a mais de 150 audiências em cortes militares, a maioria realizadas em segredo. Os palestinos sempre são tratados sob a lei militar e, com o sistema legal de apartheid israelense e sua dura discriminação contra eles, em qualquer caso, a injustiça acumula-se aos montes.
The INT community has a duty and ask for the immediate release our father. Israel imprisoned him with afak accusations without any evidence and subjected to 152 courts
Unfortunately lake of HR association to defend about MOHAMMAD EL HALABI @amnesty @amnestyusa @TomFTL pic.twitter.com/GvWtoPQ2Wz— Khalil El Halabi (@KhalilElHalabi1) November 21, 2020
‘A comunidade internacional tem o dever de exigir a soltura imediata de Mohammed El-Halabi’, reitera Khalil El-Halabi, oficial da UNRWA e pai do prisioneiro político
El-Halabi e sua família defendem sua inocência. Israel não apresentou qualquer evidência das acusações ostensivamente falsas impostas contra ele. Desta forma, o preso palestino heroicamente recusa-se a aceitar o acordo. Tem absoluta consciência das ramificações de uma falsa confissão de delito sobre outras agências humanitárias internacionais que operam na Faixa de Gaza. Sua resiliência é um exemplo heróico da resistência palestina.
O plano de Israel é fabricar um processo de corrupção contra El-Halabi, a fim de reprimir toda e qualquer pressão internacional por maior fluxo de ajuda humanitária à Faixa de Gaza. O objetivo sionista torna-se muito claro quando compreendemos a natureza das falsas alegações israelenses contra El-Halabi.
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O agente humanitário foi acusado de expropriar milhões do orçamento da Visão Mundial e desviá-los ao movimento de resistência palestina Hamas. Contudo, investigações e auditorias conduzidas tanto pelo governo da Austrália quanto pela própria organização revelaram que alegações não têm qualquer fundamento. Sobretudo, a quantia supostamente roubada por El-Halabi representa mais do que o dobro de todo o orçamento da Visão Mundial para a Faixa de Gaza. Israel sequer importou-se em inventar uma fraude convincente.
A principal agência a construir as acusações contra El-Halabi é o Shin Bet, a polícia secreta de Israel. Todo o argumento da promotoria, até então, baseia-se em supostas “evidências secretas” que sequer a defesa tem permissão para ver. O processo inteiro é uma farsa.
Khalil El-Halabi, pai de Mohammed, relatou-me que a corte militar israelense impôs ainda maiores restrições à equipe legal de seu filho, conforme o tempo. Não apenas a corte proibiu os advogados de defesa de obter acesso às transcrições de audiências prévias, como – de modo extraordinário – buscou até mesmo impedí-los de escrever suas próprias notas e resumos dos procedimentos judiciais,que serviriam à preparação de argumentos legais.
Em maio, a corte impôs tais restrições a pedido do Shin Bet. Logo após, explicou-me Khalil por e-mail, oficiais do Shin Bet “solicitaram revisão dos computadores da defesa, para deletar qualquer material que considerassem confidencial”. O advogado de El-Halabi evidentemente rejeitou o pedido. As restrições, contudo, abarcam: “Não apenas ele está proibido de fazer cópias ou citações das transcrições judiciais de audiências prévias, como sequer pode escrever notas para si próprio, que eventualmente incluam tais citações … a promotoria, a certo ponto, ameaçou registrar uma queixa criminal contra ele e prendê-lo por preparar notas em seu próprio computador”.
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Os e-mails de Khalil carregam uma leitura sinistra, mas são também plenos de determinação e esperança por justiça.
Neste mês, a campanha pela soltura de Mohammed El-Halabi recebeu um impulso das Nações Unidas. Ao examinar o caso, um grupo de especialistas de direitos humanos da ONU – liderado por Michel Lynk, relator especial na Cisjordânia e Gaza, exigiu que Israel conduzisse um julgamento justo a El-Halabi ou o libertasse imediatamente.
“A prisão, interrogatório e julgamento de El-Halabi não são dignos de nenhum estado democrático”, declararam os especialistas, em coletiva de imprensa. “As autoridades israelenses devem concedê-lo plenos direitos a um julgamento justo ou soltá-lo incondicionalmente. O que está acontecendo com El-Halabi não carrega qualquer relação com os padrões judiciais que esperamos de democracias e é parte de um padrão de comportamento no qual Israel utiliza ‘evidências secretas’ para deter centenas de palestinos indefinidamente”.
A retórica é carregada de um tom diplomático. De modo mais direto, os especialistas da ONU basicamente dizem que Israel efetivamente não é uma democracia. Os abusos do estado da ocupação colonial sobre El-Halabi são apenas o último exemplo de um catálogo crescente de evidências que prova ser precisamente este o caso.
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