Reação europeia a assentamentos e coordenação de segurança reflete traição da Autoridade Palestina

Homem palestino observa um assentamento ilegal israelense construído perto da cidade de Nablus, na Cisjordânia ocupada, em 23 de novembro de 2020 [Jaafar Ashtiyeh/AFP/Getty Images]

Duas declarações da União Europeia, com poucos dias entre uma e outra, representam precisamente a duplicidade de sua política em relação à Palestina ocupada. Com a concessão de dois estados sempre à espreita, como lembrança de que a comunidade internacional jamais pretendeu outorgar um estado palestino a seu povo, muito menos libertá-lo da expropriação colonial israelense, a União Europeia reiterou louvores à retomada da coordenação de segurança pela Autoridade Palestina (AP), por um lado, e repúdio à expansão colonial de Israel, por outro.

A Chanceler da Alemanha Angela Merkel representou o último dos líderes europeus a comentar a favor do modelo particular de normalização da Autoridade Palestina diante da ocupação. O Presidente da AP Mahmoud Abbas garantiu à líder alemã sua disposição para retomar negociações “de acordo com a legitimidade internacional” e intenção de “fortalecer nossos laços com os países árabes”. Fazer amizade com traidores, às custas do povo palestino, faz bem o estilo da Autoridade Palestina e representa, mais do que nunca, uma demonstração clara da fraca liderança de Abbas.

Paralelamente, a decisão israelense de construir 1.275 novas unidades de assentamentos em Givat Hamatos, no território ocupado de Jerusalém Oriental, é parte efetiva da anexação em curso e voltou a atrair críticas usuais da União Europeia. Líderes da Europa reafirmaram denúncias contra os planos de expansão colonial de Israel. O Ministério de Relações Exteriores da França exortou o estado sionista a “reverter sua decisão”, com base no paradigma de dois estados, que Israel mantém sob desprezo.

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A aprovação europeia da submissão de Abbas ilustra, não obstante, como é fácil fraudar seu apoio à Palestina, enquanto deixa a porta aberta às violações contínuas de Israel sobre a lei internacional, mesmo após oficiais da União Europeia vivenciarem em primeira mão a violência colonial israelense, durante recente visita de uma delegação a Givat Hamatos.

Há pouquíssima transparência sobre as condições que determinaram o retorno da Autoridade Palestina à cooperação de segurança com Israel. O suposto compromisso do estado sionista em relação a acordos firmados significa nada, dado que o próprio colonialismo constitui violação flagrante da lei internacional. Desta forma, o consenso internacional possui cada vez menos legitimidade, caso violado pelas mesmas entidades que projetam o que deveria ocorrer na Palestina. Sem qualquer ruptura com o suposto consenso, o colonialismo conserva seu livre domínio, em parte devido às severas restrições impostas sobre os palestinos. Caso Israel atropele todas as concessões, sem enfrentar penalidades por seus atos, qual garantia possui a Autoridade Palestina para preservar a premissa defunta de dois estados, sobretudo, quando o atual Presidente dos Estados Unidos alterou o conceito via “acordo do século”?

O papel da União Europeia em influenciar a retomada da coordenação de segurança entre Israel e Autoridade Palestina remete a um novo reconhecimento. Não trata-se de um retorno à política pré-Trump, mas sim de uma forma de consolidar as medidas de Trump, mesmo em sua ausência. Israel não desistirá de nenhum de seus ganhos obtido neste período e a cooperação de segurança é um passo em direção à retomada das negociações, conforme as políticas de Trump, contudo, preparando terreno para a presidência de Joe Biden. Diante da diplomacia porvir, a crítica da União Europeia à expansão colonial israelense tem ainda menos valor à Palestina do que nunca, sobretudo, ao perceber que normalizar Israel e seus crimes tornou-se algo legitimado pela própria liderança da Autoridade Palestina.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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