Bushra al-Taweel, jornalista e ativista palestina foi presa pela quinta vez por autoridades israelenses, em 8 de novembro, a caminho de casa, ao ser abordada em um posto de controle militar israelense, perto do assentamento ilegal de Yitzhar, na Cisjordânia ocupada;
Al-Taweel fora libertada ainda neste ano após passar oito meses em detenção administrativa, isto é, sem qualquer acusação ou julgamento.
Jornalistas palestinos enfrentam riscos exponenciais, sob ameaça, intimidação e violência, à medida que suas liberdades são sistematicamente violadas pela ocupação de Israel. O jornalismo é um pilar fundamental da democracia, capaz de responsabilizar os poderes por suas ações. Deste modo, não é surpresa alguma que Israel tome medidas extremas para impedir qualquer reportagem precisa sobre as violações de direitos humanos e crimes cometidos por suas forças de segurança nos territórios palestinos ocupados.
Segundo a mãe de al-Taweel, Muntaha, a jornalista e ativista enfrenta agora uma nova onda de assédio, incapaz de mover-se livremente entre cidades na Palestina ocupada ou sequer conseguir um emprego ou alguma renda de subsistência. “Ela também, é claro, está proibida de viajar para o exterior e não pode estabelecer qualquer projeto econômico ou comercial, muito menos conquistar seus objetivos como jornalista profissional que trabalha com liberdade e independência”.
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Al-Taweel é mantida na prisão de Hasharon, no norte de Israel, onde é torturada por interrogadores israelenses que tentam coagir “confissões infundadas”, relata sua mãe. Jornalistas palestinos frequentemente reportam abusos cometidos pelas forças de segurança e autoridades carcerárias de Israel.
Bushra al-Taweel é a última entre inúmero jornalistas palestinos detidos, feridos ou mortos pela ocupação. Entretanto, as autoridades israelenses ainda não conseguiram enfim silenciar as críticas sobre a ocupação ou seu injusto sistema prisional. Soldados raramente enfrentam qualquer consequência legal por seus atos e não há sinal de mudança no horizonte.
“Não há qualquer liberdade aos jornalistas para cobrir ou publicar notícias relevantes”, explicou a mãe de al-Taweel. “[Forças israelenses] confiscaram suas câmeras mais de uma vez e são comuns os abusos e as ofensas de soldados israelenses durante a cobertura dos eventos em campo. Eles costumam disparar gás lacrimogêneo e bombas de choque contra os jornalistas para impedí-los de filmar”.
Em 2019, soldados israelenses prenderam al-Taweel em Al-Bireh, perto de Ramallah, após a soltura de seu pai, o ex-líder local Jamal al-Taweel. A jornalista foi presa pela primeira vez com apenas 17 anos de idade, quando passou cinco meses na prisão, após condenada a dezoito meses em custódia. Sua libertação antecipada deu-se como parte do acordo de troca de prisioneiros de 2011.
A quarta vez em que foi presa decorreu de sua cobertura das questões que afetam os prisioneiros palestinos mantidos nas cadeias de Israel. “Ela cobria coisas como o sofrimento que eles e suas famílias passam, o fim do auxílio às famílias dos presos e o uso da detenção administrativa”, declarou Muntaha.
A frequência das prisões e dos casos de assédio contra Bushra al-Taweel representa um sintoma do objetivo israelense de desacreditar qualquer um que ouse denunciar a realidade dos palestinos que vivem sob ocupação e cerco. Estes indivíduos corajosos são silenciados e, caso necessário, eliminados da equação por Israel.
Após graduar-se na Universidade Moderna de Ramallah, em 2013, Bushra lançou a rede Aneen Al-Qaid, plataforma de mídia administrada por ex-prisioneiros, jornalistas, advogados e ativistas de direitos humanos, com foco na luta dos presos palestinos. Al-Taweel queria dar voz a seu sofrimento, sobretudo, às dores das mães e filhos de pessoas mantidas sob custódia da ocupação israelense, ao conscientizar o mundo sobre o que acontece por meio da imprensa.
Israel executou 46 jornalistas palestinos desde a Intifada de Al-Aqsa, em 2000, revelou o Sindicato dos Jornalistas da Palestina, no início de novembro. O anúncio foi feito durante um ato em frente à sede da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), na Faixa de Gaza, realizado para marcar o Dia pelo Fim da Impunidade de Crimes contra Jornalistas. Tahseen al-Astal, vice-presidente do sindicato, exortou a ONU a assumir sua responsabilidade para proteger jornalistas e responsabilizar as autoridades israelenses que cometeram tais crimes na Palestina ocupada.
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“O sindicato registra entre 500 e 700 ataques da ocupação contra jornalistas palestinos, anualmente”, destacou al-Astal. “É hora destes crimes chegarem ao fim e de responsabilizar aqueles que os cometeram e emitiram ordens para tanto.”
Muntaha al-Taweel está preocupada sobre os efeitos da última prisão sobre sua filha. “Sei que deverá afetá-la psicologicamente, porque a liberdade é o bem mais precioso que uma pessoa possui. A prisão é difícil e cruel, especialmente em tempos de coronavírus. Caso seja infectada, as autoridades carcerárias não fornecerão a ela nenhum tratamento médico”.
Mesmo detenções breves, durante a pandemia de covid-19, podem significar uma sentença de morte. A maioria dos presos palestinos são mantidos em condições precárias de superlotação, em celas pequenas onde o distanciamento social é impossível. Além disso, não há saneamento adequado, equipamento de higiene ou acesso a serviços médicos, para efetivamente ajudá-los a prevenir a doença;
Há hoje cerca de 4.500 prisioneiros palestinos dentro das cadeias de Israel, 700 dos quais dependem de tratamento médico. Israel negou consistentemente seu acesso a medidas básicas de prevenção durante a pandemia e chegou ao ponto de retirar alguns alimentos e produtos de higiene das cantinas das prisões e impedir os detentos palestinos de comprar itens fundamentais. “As famílias enviam dinheiro aos presos para que possam comprar itens essenciais de higiene pessoal e comida. Agora retirados das prateleiras pelos israelenses, o que podemos fazer? Por que não há governos no mundo capazes de responsabilizar Israel por suas injustiças?”, questiona Muntaha al-Taweel.
Nesta semana, foram impostos à sua filha mais quatro meses de detenção administrativa. Nenhuma acusação foi feita. A ordem de prisão pode ser renovada indefinidamente.
“Minha filha, Bushra al-Taweel, foi detida simplesmente por ser uma jornalista com credibilidade para expor os crimes de Israel e sua ocupação”, concluiu a mãe de al-Taweel. “O mundo precisa refletir e conscientizar-se sobre o que faz o estado da ocupação, especialmente contra mulheres e crianças”.